segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Do baú de D. Carochinha: O terceiro porquinho

O Terceiro Porquinho

(Os Três Porquinhos)

Bolão, o terceiro membro da família dos Três Porquinhos, era um empreiteiro que vivia no pe­queno povoado Vale Suíno. 

Naturalmente, ele cons­truiu para si uma casa toda de tijolos. Mas, ao sa­ber do vandalismo cometido na casa de seu irmão Bolinha e do subseqüente assassinato deste, Bolão ficou apavorado.

Na verdade, estava tão petrifica­do de medo que não conseguiu atravessar o povoa­do para prevenir seu outro irmão, Bolota.

Bolão, então, tapou as lindas janelas de sua resi­dência com tijolos, lacrou a porta com tábuas espes­sas e acocorou-se num canto da sala. Os “porcos” do departamento de polícia (um termo carinhoso no Vale Suíno) telefonaram pouco tempo depois para informar que 

Bolota também fora assassinado e soterrado em plena luz do dia. Todas as evidên­cias indicavam que os dois irmãos haviam sido mortos da mesma maneira. Ao desligar o telefone, Bolão escutou a voz mais atemorizante do mundo:
— Abra esta porta, senão vou bufar, soprar, e sua casa irá voar!

Era o terrível Lobo Mau, bradando sua ameaça para, sistematicamente, aniquilar a família dos Três Porquinhos. Petrificado demais para enfrentar o lobo, Bolão permaneceu em silêncio e esperou. Acredita­va que, se não reagisse, ninguém poderia feri-lo. O Lobo Mau fora embora mas poderia voltar.

Os amigos de Bolão, o porquinho que ia ao mer­cado e o porquinho que comia rosbife, foram visita-­lo. Bolão mal conseguia escutá-los através das gros­sas paredes e pediu-lhes que fossem embora e o dei­xassem sozinho. Imaginou que a repentina visita pudesse ser o lobo disfarçando a voz para enganá-­lo! Nem os doces apelos de sua noiva, Francisca Leitão, conseguiram convencê-lo a sair. E as tenta­tivas persistentes das Bandeirantes, sempre dispos­tas a praticar boas ações, foram em vão.

As vozes foram rareando à medida que a pare­de tomava-se mais grossa, permitindo que Bolão ga­rantisse a própria segurança por algum tempo. Mas, conforme os meses passavam, ele começou a se sen­tir profundamente sozinho e cada vez mais isolado do povoado e de si mesmo. Houvera uma época em que Bolão se orgulhava da própria aparência. Cos­tumava usar um bastonete de ferro para enrolar a cauda e tomá-la perfeita. Mas desde o incidente com o Lobo Mau, Bolão tornara-se depressivo e, lentamente, passara a descuidar de si mesmo. Antes, con­siderava a frase “sujo como um porco” hilariante, mas agora parecia-lhe verdadeira.

Após muitos meses, ele acordou numa manhã e descobriu que aquela fortaleza de tijolos havia se tornado uma prisão. Reconheceu que a solidão transformara-se em algo pior que o pavor de en­frentar o lobo. Bolão pegou sua picareta e começou a demolir a prisão, tijolo por tijolo.

Do lado de fora, o povoado comemorou. Os ami­gos de Bolão deram-lhe as boas-vindas e contaram que o Lobo Mau havia morrido meses atrás de triquinose, devido à ingestão de um porco mal-as­sado. Então, convidaram Bolão para ingressar no grupo de vigilantes do povoado, que vinha ajudan­do a espantar os predadores e prevenir que o medo dominasse os habitantes.

Certa noite, várias semanas depois, enquanto Bolão recebia amigos na varanda de sua nova resi­dência à beira da Baía dos Porcos, escutaram uma batida à porta, seguida do tão familiar e estrondo­so sopro. Bolão e os amigos armaram-se e dirigiram-se à porta para confrontar o medo. Quando a abriram, encontraram a filha do Lobo Mau, Virgínia.

Sabendo que os assustara, ela desculpou-se e dis­se-lhes que era vítima de constantes crises de asma. Os porcos a convidaram para entrar e descobriram que ela era uma vegetariana convicta.
Afinal, quem tem medo de Virgínia Wolf?

Lembre-se: enfrentar seus medos é um grande passo em direção ao amor-próprio!



Fonte: Contos de Fadas para Adultos
             Sue e Allen Gallehugh

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