sábado, 26 de fevereiro de 2011

Do baú de D. Carocha: Cinderela

                                          Cinderela Ltda.
(A Gata Borralheira)

A verdadeira história de Cinderela pode surpreen­dê-lo, porque não envolve passarinhos animados e nem ratos cantores.

Cinderela foi criada por uma madrasta que ti­nha duas filhas, Winifred e Della, do primeiro ca­samento. Ao contrário da fábula popular, não se­ria justo chamar Jennifer, a madrasta, de malva­da.

Embora Jennifer tentasse de tudo para tratar as três meninas igualmente, Cinderela rejeitava a nova família, sufocada por sentimentos de rancor e abandono.

Ainda amargurada devido à morte da mãe e do pai, Cinderela temia que, se amasse alguém outra vez, esta pessoa também a abandonaria. Winifred e Della, que não eram detentoras de uma beleza estonteante apesar da adorável personalidade, sem­pre incluíam Cinderela em seus programas. Mas, aos poucos, pararam de convidá-la porque Cinderela repetidamente as rejeitava.

Na verdade, Cinderela preferiu isolar-se. Sentava-se perto da lareira durante horas, enquanto so­nhava ser resgatada de sua enfadonha existência por um príncipe num cavalo branco. Cinderela outrora fora linda; no entanto, com o passar dos meses, o brilho rosado fenecia à medida que se afun­dava em sofrimento e infelicidade. Ela até parou de lavar os cabelos e começou a usar a comida para e preencher o vazio da solidão. 

Claro, a solidão não foi preenchida, mas o ex­cesso de comida preencheu sua silhueta. As roupas que lhe moldavam a cintura tornaram-se trapos de tanto ela se sentar na borda da lareira apagada,cheia de cinzas.

Como não eram nada bobas, as irmãs de Cinderela logo garantiram seus ingressos para o Baile Anual das Debutantes. Perguntaram a Cinderela se ela planejava comparecer, mas Cinderela alegou que todos os vestidos a deixavam gorda e que, se a madrasta realmente gostasse dela, teria comprado um ingresso para ela ao invés de fazê-la pagar.

Cinderela acreditava que, se esperasse tempo su­ficiente e quisesse de verdade, alguém a socorreria. Ao espiar pelo longo buraco da chaminé, pediu a uma estrela no céu que algo ocorresse para mudar sua vida. A resposta surgiu quando uma pilha de folhas secas, carvão e pedriscos despencaram do filtro chaminé. Cinderela perdeu os sentidos na hora.

Quando despertou, Winifred e Della encontravam-se ao lado da cama, colocando compressas de água fria em sua testa. Jennifer confessou que ficara muito preocupada porque o acidente havia deixado a enteada inconsciente por vários dias. Cinderela percebeu ­através das lágrimas de Jennifer que esta dizia a verdade. Como as irmãs também tivessem permanec­ido com ela desde o instante do acidente, os sentimentos de abandono começaram a dissipar-se, e Cinderela conseguiu enxergá-las sob um novo pris­ma (na verdade, pareceram mais atraentes devido à visão ofuscada pelos olhos marejados de Cinderela). 

Tão logo voltou a enxergar melhor, Cinderela deu-se conta de que, até então, vinha bancando a vítima. Porém, agora tinha o poder de realizar mudanças positivas em sua vida. Como ainda faltass­em várias semanas para o baile, ela se lavou e pediu a Winifred e Della que a ajudassem a tratar dos cabelos.

Perdeu peso graças a exercícios e bebidas die­téticas recomendados na televisão por um famoso treinador de beisebol. Em pouco tempo, os elegan­tes vestidos voltaram a lhe servir. Para conseguir dinheiro a fim de comprar o ingresso do baile, Cinderela ofereceu-se para limpar a lareira da ma­drasta.

Enfim, a grande noite chegou. O palácio cintila­va e os sons de música e risos reverberavam pelo ar quando Cinderela parou à entrada do salão. Todos se viraram para admirar a linda Cinderela.
 
Assim que subiu os degraus, o salto do sapato se quebrou. No passado, Cinderela teria fugido de ver­gonha, mas a nova confiança interior fez com que ela jogasse os sapatos numa moita e entrasse no salão descalça. Diversas donzelas perguntaram-lhe acerca dos sapatos, e Cinderela, confiante, contou-lhes que pés descalços eram a última moda na Europa. Logo, no decorrer do baile, várias donzelas tiraram seus sapatos para não se mostrarem desatualizadas.

Do outro lado do salão, Cinderela avistou o prín­cipe. Ele era tudo o que desejava num homem: boni­to e rico o suficiente para sustentá-la com luxo pelo resto da vida, O príncipe atravessou o salão e convi­dou Cinderela para dançar. Quando ele reparou nos pés descalços, Cinderela riu e explicou-lhe que usa­va sapatos de cristal que não podiam ser vistos.

Enquanto dançavam, o príncipe descreveu seu vasto domínio e disse a ela que tinha muita sorte por dançar com alguém tão galante e abastado. Além disso, ele também conseguiu pisar nos dedos de Cinderela durante a valsa. No final, o príncipe declarou que, sendo ela a mais linda donzela do reino, ele lhe concedia a honra de ser sua esposa.

Cinderela notou que os anos de reinado haviam roubado a personalidade do príncipe. Dado o novo controle que tinha sobre a própria vida, ela impro­visou a história de que precisava chegar em casa à meia-noite e correu porta afora. O príncipe, então, conduziu uma exaustiva peregrinação pelo reino à procura da donzela de sapatos de cristal, mas to­dos pensaram que o pobre galã sofria de algum distúrbio mental.

Utilizando os próprios recursos e talentos, Cinderela logo abriu uma empresa de limpeza de chaminés, usando o slogan “Incineramos seus Pro­blemas!”. E, é claro, ela viveu feliz para sempre!

 

Lembre-se: fazer escolhas positivas quanto ao que você quer, sente e faz é essencial para a autoconfiança!

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