segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Do baú da D.Carocha: Chapeuzinho Vermelho

 A Carapuça Vermelha


Chapeuzinho Vermelho era muito apegada à avó, Marcela, e nunca tirava a linda capa vermelha que a boa senhora havia feito para ela. Chapeuzinho an­siava por visitar a querida vovó, mas temia atraves­sar a densa floresta para chegar à casa de Marcela.

Quanto mais pensava na floresta, mais Chapeu­zinho se apavorava com as terríveis criaturas que poderia encontrar durante o tenebroso trajeto. Quando escutava barulhos à noite, imaginava fe­rozes mandíbulas de lobos, duendes beberrões e bruxas devoradoras à procura de crianças inocen­tes para acrescentar mais sabor à refeição.

Um dia, Chapeuzinho decidiu que o desejo de ver a avó era mais forte que o temor que tinha da floresta. Descobriu que o medo roubava-lhe a ale­gria da vida, e, portanto, resolveu enfrentá-lo. Pe­gou a cesta com iguarias deliciosas para a avó e ca­minhou em direção à grande floresta.

Não levou muito tempo para Chapeuzinho Ver­melho escutar um assobio. A princípio, sentiu-se lisonjeada. Depois, percebeu que não devia haver muitos trabalhadores nas profundezas da floresta. Então, imaginou-se um piquenique apetitoso para o famélico lobo. 

Atemorizada, começou a correr o mais rápido possível e caiu nos braços de um char­moso rapaz que carregava um machado.
— Jovem lenhador, poderia me proteger do lobo para que eu possa levar esta cesta de alimentos à casa de minha avó? — Chapeuzinho perguntou, ansiosa.
O homem sorriu e acariciou o capuz vermelho.
— O lobo pode sentir o aroma desta cesta de co­mida, senhorita. Por que não a deixa comigo para que eu possa entregá-la na casa de sua avó quando eu terminar meu trabalho?

Chapeuzinho aceitou sem demora e retomou a trilha da floresta, com a certeza de que alguém a protegia. Quando chegou à casa da avó, a porta já estava aberta. Espiando pela janela da cozinha, ela viu uma criatura terrivelmente peluda e pensou: “Mesmo que vovó não esteja freqüentando o salão de beleza ultimamente, ela não estaria tão cabeluda”.
Só podia ser o lobo.

Pareceu-lhe que a fera estava engolindo as últi­mas migalhas de sua avó com a ajuda de suco de laranja. Chapeuzinho ficou tão furiosa que perdeu a noção do medo e precipitou-se para enfrentar o intruso animalesco.

No mesmo instante, do lado de fora da casa, a avó de Chapeuzinho Vermelho surgiu à porta.
— Por que essa comoção, Chapeuzinho Verme­lho? Você acaba de transformar minha caminhada de dez minutos em uma corrida de cinco segundos!
— Oh, vovó! Você está salva! Pensei que o lobo a tivesse devorado — disse a espantada Chapeuzinho.
— Bem, Marcela disse que me queria para o jan­tar — o lobo explicou, brincando. — Talvez eu deva ser o único a ficar preocupado.
Os três riram e conversaram durante horas. Chapeuzinho Vermelho ficou sabendo que o lobo e Marcela eram velhos amigos.
— Sabe, vovó, você me ofereceu dois grandes presentes em minha vida. O primeiro foi esta linda capa. O vermelho combina com tudo que tenho. Mas o segundo presente é mais valioso. Você me ensinou a não julgar os outros baseada em aparên­cia e estereótipos.
 
Naquele momento, o rádio divulgou uma notí­cia extraordinária:
— Gostaríamos de alertar nossos ouvintes quan­to a um prisioneiro que se esconde nas vizinhanças da Grande Floresta. O Homem do Machado foi con­denado à prisão perpétua por assassinato em pri­meiro grau. Ele deve ser considerado armado e perigoso.

Chapeuzinho lembrou-se do belo lenhador que havia prometido protegê-la. Ela, em geral, prefe­ria manter-se calada, mas agora se sentia mais con­fiante por causa da nova experiência que vivera naquele dia.
— Vou ligar para a policia e dizer-lhe onde encon­trar esse maníaco — Chapeuzinho prontificou-se.
Mas, tão logo terminou de falar, ela avistou o le­nhador à soleira da porta. O homem puxou uma faca e investiu contra Chapeuzinho. Rapidamente, ela tirou a capa e jogou-a sobre a cabeça do intru­so, enquanto lhe tomava a faca.
Nesse meio-tempo, Marcela agarrou um punha­do de retalhos para proteger o pulso e socou o le­nhador. O lobo, por sua vez, amarrou o fugitivo de­sorientado com a resistente linha de seda de Marcela e, então, ligou para a polícia.

Desde então, toureiros profissionais passam anos tentando aperfeiçoar-se na técnica da “capa vermelha” de Chapeuzinho.




Lembre-se: NÃO julgar os outros representa um passo em direção a gostar de si mesmo!

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