Um monge erudito, grande estudioso do Sutra do Diamante,
estava viajando — sempre para discursar sobre o sutra.
Carregava com ele um grande peso de
tratados e explicações sobre o ensinamento.
No caminho, encontrou uma mulher idosa e simples, que vendia
bolinhos de arroz. Cansado e com fome, falou à senhora:
— Gostaria de comprar alguns bolinhos, por favor.
— Que livros está carregando? — ela perguntou.
— É o meu comentário sobre o sentido verdadeiro do Sutra do
Diamante — disse, orgulhoso.
Após um pequeno momento em silêncio, a senhora falou:
— Vou fazer uma pergunta. Se o senhor puder me responder, eu
lhe darei os bolinhos de graça.
Se não, terá de ir embora, pois não lhe vou vendê-los.
Achando-se capaz de responder a qualquer pergunta, quanto
mais de uma pessoa sem os seus anos de conhecimento dos termos filosóficos, disse:
— Muito bem, pergunte.
— Está escrito no Sutra do Diamante que a mente do passado é
inatingível, a mente do futuro é inatingível e a mente do presente é
inatingível. Diga, então, com qual mente o senhor se alimenta?
Estupefato, ele não soube o que dizer. Por mais que
procurasse em sua memória trechos do sutra, nada encontrava.
A senhora se levantou e comentou:
— Sinto muito, mas acho que terá de se alimentar em outro
lugar — e partiu.
Quando o erudito finalmente chegou ao seu destino, encontrou
o mestre do templo. Era tarde e ainda abalado com o encontro anterior,
sentou-se silenciosamente em frente ao mestre, esperando que ele iniciasse o
debate.
O mestre, após algum tempo, disse:
— É muito tarde, e você está cansado. É melhor ir dormir.
— Muito bem — disse o intelectual, saindo para a escuridão
do corredor.
O mestre, vindo de dentro do salão, trouxe para ele uma vela
acesa. Quando pegou a vela trazida pelo mestre, este subitamente a assoprou, apagando a
luz e deixando ambos silenciosos em meio à escuridão.
Nesse momento, sua mente
despertou.
No dia seguinte, dizem, levou todos os seus livros e
comentários para o pátio e os queimou.
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