sexta-feira, 27 de julho de 2018

ENTRADA NO CAMINHO





Muitas pessoas se postam na porta de entrada do Caminho, e querem selecionar quem deve entrar.
O puritano pergunta:
-Por que os pecadores?
E o moralista berra:
- A prostituta quer fazer parte do banquete!
E grita o guardião dos valores sociais:
- Como perdoar a mulher adúltera, se ela pecou?
O penitente rasga suas roupas:
- Por que curar um cego que só pensa em sua doença, e nem sequer agradece?
Grita o político:
- Por que dar a César o que é de César, e não levantar as massas contra os opressores?
O asceta esperneia:
- Deixas que a mulher derrame em teus cabelos um óleo caro! Por que não vendê-lo e comprar comida?
Sorrindo, Jesus segura a porta aberta. E entram todos que quiserem entrar, independente da gritaria histérica.




domingo, 22 de julho de 2018

BENÇÃOS





Certa ocasião, um senhor foi visitar um mosteiro zen e pediu ao abade:
— Mestre, venho pedir uma prece para mim, um Gokito (BENÇÃOS) de longa vida. Tenho visto a morte levar muitas pessoas conhecidas e próximas. 

Sei que também deverei morrer um dia. Portanto, por favor, faça um Gokito para eu viver por muito tempo.

— De acordo. Fazer um Gokito para viver muito tempo não é difícil. Quantos anos o senhor
tem?
— Apenas 80.
— Ainda é jovem. Diz um provérbio japonês que até os 50 anos somos como crianças e que,
entre os 70 e os 80, precisamos amar.
— Concordo plenamente. Então o senhor me fará o Gokito?
— Até que idade quer viver?
— Por mim, basta chegar até os 100 anos de idade.
— Seu desejo, na verdade, não é muito grande. Para chegar aos 100 anos, só precisa viver mais 20. Não é um período tão longo assim. E, sendo o meu Gokito muito exato, sua morte será exatamente aos 100 anos.

Amedrontado, o homem falou:
— Não, não! Melhor orar para que eu viva 150 anos!
— Atualmente, tendo chegado aos 80, já viveu mais da metade do prazo que deseja. A escalada de uma montanha exige grande soma de esforços e tempo, mas a descida é rápida. A partir de agora, seus derradeiros 70 anos passarão como um sonho.
— Nesse caso, peço para viver 300 anos!

O monge respondeu:
— Como seu desejo é pequeno! Somente 300 anos! Diz um provérbio antigo  as tartarugas vivem mais de  10 mil. Se animais podem viver tanto assim, como é que o senhor, um ser humano, deseja viver apenas 300 anos?
— Tudo isso é muito difícil... — tornou o homem, confuso. — Para quantos anos de vida pode
ser feito um Gokito?
— Quer dizer, então, que o senhor não quer morrer? Que atitude egoísta... — replicou o mestre.
— Bem, tem razão... — respondeu o ancião, constrangido.
— Assim sendo, o melhor é fazer um Gokito para não morrer.
— Sim, é claro! E pode ser? Esse é o Gokito que eu quero! — falou o senhor, animado.
— É muito caro, muito, muito caro, e leva muito tempo...
— Não faz mal — concordou o homem.
O mestre então disse:
— Começaremos hoje entoando apenas o  (Sutra] do Coração da Grande Sabedoria Perfeita). Em seguida, todos os dias, o senhor deverá vir fazer zazen no templo. Pronunciarei, então, palestras em sua intenção.

Dessa maneira, de forma suave e indireta, o monge conseguiu fazer com que o homem deixasse de se preocupar com o dia de sua morte e o conduziu à prática dos ensinamentos do Darma de Buda




sexta-feira, 20 de julho de 2018

BARULHO




Muitas pessoas se postam na porta de entrada do Caminho, e querem selecionar quem deve entrar.

O puritano pergunta: "Por que os pecadores?”

E o moralista berra: "a prostituta quer fazer parte do banquete!"

E grita o guardião dos valores sociais: "como perdoar a mulher adúltera, se ela pecou?"

O penitente rasga suas roupas: "por que curar um cego que só pensa em sua doença, e nem sequer agradece?”

Grita o político: "por que dar a César o que é de César, e não levantar as massas contra os opressores?”

O asceta esperneia: "deixas que a mulher derrame em teus cabelos um óleo caro! Por que não vendê-lo e comprar comida?"

Sorrindo, Jesus segura a porta aberta. E entram todos que quiserem entrar, independente da gritaria histérica




quinta-feira, 19 de julho de 2018

O MAIS PODEROSO






Um dos discípulos de Yu estava conversando com um discípulo de Rinzai:
- Meu mestre é um homem capaz de fazer milagres, e por causa disso é respeitado por todos os seus alunos.
Eu já o vi fazer coisas que estão muito além de nossa capacidade.

E o seu mestre? Que grandes milagres é capaz de realizar?
- O maior milagre do meu mestre é não precisar mostrar nenhum prodígio para convencer aos seus alunos que é um sábio – foi a resposta.




terça-feira, 17 de julho de 2018

ENTENDENDO A CARIDADE




Certo dia, o mestre Eisai (século XII, Japão) estava no templo que ele mesmo fundara, chamado Kenninji, em Quioto.

Um homem pobre veio visitá-lo e disse:
Minha família é tão pobre que não tivemos nada para comer por muitos dias. Minha mulher e filhos estão quase morrendo de fome. Por favor, sinta compaixão por nós.

O mestre ficou perdido — não havia roupas, alimentos nem outras posses no templo. 

Lembrou-se de um pouco de cobre que fora doado para fazer o halo da imagem do Buda da Medicina, que estava sendo construída. 

O abade pegou esse cobre e deu ao homem para que pudesse vender e trocar por alimentos. Feliz, o homem se foi.

Entretanto, alguns dos praticantes criticaram o mestre, dizendo que ele não deveria dar parte da imagem de um Buda a uma pessoa laica.

 E o mestre respondeu:
Pensem na vontade Buda. Mesmo que tivéssemos de dar toda a imagem de Buda a alguém que estivesse com fome, saibam que isso estaria de acordo com a vontade Buda. 

E, mesmo que eu vá para o inferno por causa de um pecado como esse, salvei algumas pessoas da possível morte e do sofrimento da fome.





segunda-feira, 16 de julho de 2018

ENTENDENDO A GENTILEZA




Durante a vida de Shaquiamuni Buda, muitos não budistas falavam mal dele e o detestavam.
 Um de seus discípulos perguntou-lhe:
— O mestre tem sido sempre gentil e pleno de compaixão. Todos os seres deveriam igualmente respeitá-lo.
Por que há quem assim não o faça?

Buda respondeu:
— Quando eu dirigia uma grande assembleia, no passado, geralmente admoestava meus discípulos e gritava com eles, sempre procurando por suas faltas.
 Por causa disso, essas coisas acontecem comigo atualmente.



quarta-feira, 11 de julho de 2018

ALIMENTO





Um monge erudito, grande estudioso do Sutra do Diamante, estava viajando — sempre para discursar sobre o sutra. 
Carregava com ele um grande peso de tratados e explicações sobre o ensinamento.

No caminho, encontrou uma mulher idosa e simples, que vendia bolinhos de arroz. Cansado e com fome, falou à senhora:
— Gostaria de comprar alguns bolinhos, por favor.
— Que livros está carregando? — ela perguntou.
— É o meu comentário sobre o sentido verdadeiro do Sutra do Diamante — disse, orgulhoso.
Após um pequeno momento em silêncio, a senhora falou:
— Vou fazer uma pergunta. Se o senhor puder me responder, eu lhe darei os bolinhos de graça.
Se não, terá de ir embora, pois não lhe vou vendê-los.

Achando-se capaz de responder a qualquer pergunta, quanto mais de uma pessoa sem os seus anos de conhecimento dos termos filosóficos, disse:
— Muito bem, pergunte.
— Está escrito no Sutra do Diamante que a mente do passado é inatingível, a mente do futuro é inatingível e a mente do presente é inatingível. Diga, então, com qual mente o senhor se alimenta?

Estupefato, ele não soube o que dizer. Por mais que procurasse em sua memória trechos do sutra, nada encontrava.

A senhora se levantou e comentou:
— Sinto muito, mas acho que terá de se alimentar em outro lugar — e partiu.

Quando o erudito finalmente chegou ao seu destino, encontrou o mestre do templo. Era tarde e ainda abalado com o encontro anterior, sentou-se silenciosamente em frente ao mestre, esperando que ele iniciasse o debate.

O mestre, após algum tempo, disse:
— É muito tarde, e você está cansado. É melhor ir dormir.
— Muito bem — disse o intelectual, saindo para a escuridão do corredor.

O mestre, vindo de dentro do salão, trouxe para ele uma vela acesa. Quando pegou a vela trazida pelo mestre, este subitamente a assoprou, apagando a luz e deixando ambos silenciosos em meio à escuridão. 

Nesse momento, sua mente despertou.

No dia seguinte, dizem, levou todos os seus livros e comentários para o pátio e os queimou.



terça-feira, 10 de julho de 2018

TEMPERAMENTO





Um discípulo reclamou ao mestre:
— Como posso curar meu temperamento ingovernável?
— Deixe-me ver esse temperamento — disse o mestre.
O discípulo não pôde demonstrá-lo, e mestre Bankei falou:
— Seu temperamento não deve ser sua natureza verdadeira. 
Se fosse, você poderia demonstrá-lo para mim em qualquer momento. 
Quando você nasceu, decerto não o tinha e seus pais não o deram a você. Pense nisso.


segunda-feira, 9 de julho de 2018

DECISÃO






Um monge disse:
— Minha mãe é idosa e sou filho único. Ela depende de mim para viver. Seu amor por mim é profundo e meu desejo de cuidar dela também é grande. Assim, estou envolvido com atividades e pessoas mundanas.

Com a ajuda de outras pessoas, obtenho roupas e alimentos para minha mãe.

Se eu abandonar o mundo e for viver numa choupana, minha mãe não sobreviverá um só dia. 

Ainda assim, é difícil para mim ficar no mundo sem ser capaz de penetrar completamente o Caminho de Buda, pois é meu dever cuidar dela. Se houver alguma razão pela qual eu deva abandoná-la para penetrar o Caminho, que razão seria essa?

O mestre Dogen respondeu:

— Esse é um assunto difícil. Ninguém pode decidir por você. Considere cuidadosamente. 

Se você verdadeiramente aspira à prática do Caminho de Buda, seria bom criar condições para sua mãe e para você. 
O que você realmente desejar, obterá.






domingo, 8 de julho de 2018

LIÇOES DE GANSOS





 Quando um ganso bate as asas, cria um "vácuo" para o pássaro seguinte. Voando numa formação em "V" o bando inteiro tem o seu desempenho 71% melhor do que se a ave voasse sozinha.

Lição: Pessoas que compartilham uma direção comum e senso de comunidade podem atingir seus objetivos mais rápido e facilmente, pois estão contando com ajuda de outros.

 Sempre que um ganso sai de formação, sente subitamente a resistência por tentar voar sozinho e rapidamente retorna ao grupo, aproveitando a "aspiração" da ave imediatamente a sua frente.

Lição: Se tivermos sensibilidade, aceitaremos a ajuda dos colegas e seremos prestativos com os demais.

 Quando o ganso líder se cansa, muda para o final da formação e outro assume seu lugar, ocupando a posição dianteira.

Lição: É preciso acontecer um revezamento das tarefas e compartilhar a liderança. As pessoas, assim como os gansos, são interdependentes.

 Os gansos de trás, na formação, grasnam para incentivar e encorajar os da frente a aumentar a velocidade.

Lição: Precisamos assegurar que nossas palavras sejam de incentivo e não desestímulo.

 Quando um ganso fica doente, ferido ou é abatido, dois gansos saem da formação e seguem para ajudá-lo e protegê-lo. 
Ficam com ele até que esteja apto a voar de novo ou morra. Só assim eles retomam o procedimento normal, com outra formação, ou vão atrás do bando.

Lição: O bom senso indica que devemos apoiar nossos colegas nos momentos difíceis.




sábado, 7 de julho de 2018

DIDÁTICA



O monge Ryokan (1758-1831) devotou sua vida ao estudo do Zen. Um dia ele ouviu que seu sobrinho, a despeito das advertências de sua família, estava gastando todo o dinheiro com uma prostituta.

O sobrinho havia substituído o monge Ryokan na responsabilidade de gerenciar os proventos e os bens da família — que agora corria o risco de perder tudo. 

Por isso, os parentes pediram ao monge que fizesse algo. Ryokan teve de viajar por uma longa estrada para encontrar seu sobrinho, o qual não via desde muitos anos atrás. 

O sobrinho ficou grato por encontrar seu tio novamente e o convidou a pernoitar.

Por toda a noite o monge Ryokan sentou-se em meditação. Quando estava partindo, na manhã seguinte, disse ao jovem sobrinho:
— Eu devo estar ficando velho, minhas mãos tremem tanto! Poderia me ajudar a amarrar minhas sandálias de palha?

O sobrinho o ajudou devotadamente.

— Obrigado — disse o monge. — Você vê, a cada dia um homem se torna mais velho e frágil.

Cuide-se com atenção. Então partiu, sem falar uma só palavra sobre a cortesã ou as reclamações de seus parentes.

Daquela manhã em diante, o esbanjamento terminou.




sexta-feira, 6 de julho de 2018

O SAMURAI




Musashi, quando jovem, era um guerreiro valente e audacioso, mas não sabia controlar sua força e seu temperamento.
 Estava sempre criando problemas e um dia foi preso. Seria julgado e talvez executado. 
No caminho, passou pelo templo de sua infância, e o monge Takuan o reconheceu. Insistiu com os soldados que deixassem Musashi amarrado de ponta-cabeça na árvore e sob seus cuidados.
 Ele dobraria a fera. Monge Takuan era confiável, amigo do senhor feudal. Assim foi feito.
Furioso, o jovem Musashi gritava para que o monge o soltasse, mas esse apenas ria debaixo da árvore. Musashi cuspia, falava de forma grosseira, mas o monge apenas ria, até que disse:
— Essa sua raiva pessoal não serve para nada. Se sua indignação fosse maior do que você, poderia sair dessa árvore.
Foi assim que o monge Takuan soltou Musashi e o treinou na arte zen do autoconhecimento para que se tornasse um dos maiores samurais do Japão.



quinta-feira, 5 de julho de 2018

FUJA DE BUDA




Um monge foi se despedir de mestre Joshu. O mestre perguntou:
Para onde você vai?

Ele respondeu:
Estou indo visitar vários locais para aprender o Darma de Buda.

Joshu pegou um instrumento litúrgico chamado hossu (um bastão com crina de cavalo na ponta, que simboliza os fios brancos de cabelo entre as sobrancelhas de Buda) e disse:
Não fique onde Buda existe. Corra rapidamente de onde não Buda existir.




quarta-feira, 4 de julho de 2018

ENTENDIMENTO




Há muito tempo Eshin Sozu, também conhecido como Genshin (942-1017), fez com que alguém espantasse um veadinho que comia grama no jardim.

— Parece que o senhor não tem compaixão. Por que não quer compartilhar sua grama com o bichinho e o afugentou?

Ele respondeu:
— Se eu não o afugentasse, ele eventualmente se tornaria familiar com seres humanos. E se acaso se aproximasse de uma pessoa má, certamente seria morto. 
Por isso o espantei.




terça-feira, 3 de julho de 2018

A SENHORA DO CHÁ



Mestre Hakuin Ekaku sempre elogiava a compreensão do zen de uma senhora. Ela era proprietária de uma casa de chá nas proximidades do mosteiro.

Os jovens praticantes, não podiam acreditar que a senhora da casa de chá pudesse ser tão sábia, decidiam ir por si mesmos conhecê-la e testá-la.

Sempre que a senhora os via se aproximando, era capaz de saber, num piscar de olhos, se estavam vindo pelo chá ou para testá-la sobre o Zen.

Caso viessem para tomar chá, ela os servia graciosamente. 

Caso viessem para testá-la, ela os convidava a ir para detrás da cortina, na parte posterior da casa de chá. Assim que lhe obedeciam,ela batia neles com um bastão.

Nove, em dez, não puderam escapar do seu bastão.



segunda-feira, 2 de julho de 2018

RIQUEZA




Um homem muito rico pediu ao monge pintor Sengai Gibon (1750-1837), para escrever algo pela continuidade da prosperidade de sua família, de modo que esta pudesse manter sua fortuna geração após geração. 

Sengai pegou uma longa folha de papel de arroz e escreveu: “Pai morre, filho morre, neto morre”.

O homem rico ficou indignado e, ofendido, disse:
— Pedi algo pela felicidade de minha família! Por que uma brincadeira dessa?

— Não pretendi fazer brincadeira — explicou Sengai tranquilamente. — Se antes de sua morte seu filho morresse, isso iria magoá-lo imensamente. 

Se seu neto se fosse antes de seu filho, tanto você quanto ele ficariam arrasados.

 Mas, se sua família, de geração em geração, morrer na ordem que eu escrevi, será o mais natural curso da vida. 

Eu chamo isso de verdadeira riqueza.



domingo, 1 de julho de 2018

IMITANDO O MESTRE




Um discípulo que amava e admirava seu mestre, resolveu observá-lo em todos os detalhes, acreditando que – ao fazer o que ele fazia, iria também adquirir sua sabedoria.


O mestre só usava roupas brancas, e o discípulo passou a vestir-se da mesma maneira.

O mestre era vegetariano, e o discípulo deixou de comer qualquer tipo de carne, substituindo sua alimentação por ervas.

O mestre era um homem austero, e o discípulo resolveu dedicar-se ao sacrifício, passando a dormir numa cama de palha.

Passado algum tempo, o mestre notou a mudança de comportamento do seu  discípulo, e foi ver o que estava acontecendo.

- Estou subindo os degraus de iniciação – foi a resposta. – O branco de minha roupa mostra a simplicidade da busca, a alimentação vegetariana purifica o meu corpo, e a falta de conforto faz com que eu pense apenas nas coisas espirituais.

Sorrindo, o mestre o levou até um campo onde um cavalo pastava.- Você passou este tempo olhando apenas para fora, quando isso é o que menos importa – disse. – Está vendo aquele animal ali? Ele tem a pele branca, come apenas ervas, e dorme num celeiro com palha do chão. Você acha que ele tem cara de santo, ou chegará algum dia a ser um verdadeiro mestre?


 


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