sábado, 6 de outubro de 2018

O MÉDICO E O ZEN



Kenso Kusuda, diretor de um hospital em Nihonbashi, Tóquio, recebeu um dia a visita de um velho amigo, também médico, que não via há sete anos.
- Como vai?, - perguntou Kusuda.
- Deixei a medicina, - respondeu o amigo.
- Ah, sim?
- Na verdade, agora eu pratico o Zen.
- E o que é o Zen? - quis saber Kusuda.
- É difícil explicar... - hesitou o amigo.
- E como é possível entendê-lo, então?
- Bem, deve-se praticá-lo.
- E como faço isso?
- Em Koishikawa, há uma sala de meditação dirigida pelo Mestre Nan-In. Se quiser experimentar, vá até lá."
No dia seguinte Kusuda dirigiu-se à sala de meditação do Mestre Nan-In. Ao chegar, gritou:
- Com licença!
- Quem é? responderam lá de dentro.
Um velho de aspecto miserável, que se aquecia junto a um fogareiro próximo ao vestíbulo, dirigiu-se a ele. Kusuda entregou-lhe seu cartão e o velho, após dar uma olhada, disse sorrindo:
- Olá!!! Faz tempo que o senhor não aparece!
- Mas... é a primeira vez que venho aqui! - disse Kusuda, surpreso.
- Ah, sim? É a primeira vez? Como está escrito 'Diretor de hospital', pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?
- Quero falar com o Mestre Nan-in.
- Já está falando com ele! - disse o velho, abrindo um largo sorriso.
- Então o Mestre Nan-in é o senhor?, - disse Kusuda meio desconfiado. Esperava alguém mais "venerável".
- Eu mesmo, - respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandar seu visitante entrar. Já meio desanimado e um tanto desdenhoso, Kusuda decidiu falar ali mesmo, de pé, no vestíbulo:
- Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen.
O velho olhou para ele e disse:
- Praticar o Zen? O senhor é um médico não? Deve então tratar bem de seus doentes e se esforçar para o bem de sua família, o Zen é isso. Agora, pode ir embora.
Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavras de Nan-In, três dias depois resolveu visitar novamente o velho Mestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestíbulo.
- Novamente o senhor aqui? O que deseja?
- Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen! - disse Kusuda petulantemente.
- Ora, nada tenho a acrescentar ao que já disse outro dia. Vá embora e seja um bom médico. - E fechou a porta.
Dois ou três dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre, pois absolutamente não conseguira entender suas palavras.
- Outra vez aqui?
- Eu vim porque não consegui entender suas palavras, por mais que pensasse sobre elas.
- Pensando nas palavras é que o senhor não vai entender coisa nenhuma mesmo! - disse o velho monge.
- Então o que eu devo fazer? - disse Kusuda, já quase desesperado.
- Procure perceber por si, ora essa! Agora, vá embora.
Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:
- Por três vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim até aqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me manda embora sem me dar o mínimo esclarecimento! Que espécie de mestre é o senhor, afinal!?!
- Ah! Finalmente ele zangou-se!, - exclamou o Mestre.
- Mas é EVIDENTE!, - desabafou o médico.
- Então agora chega de palavreado e seja educado! Faça-me uma saudação.
Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade de dar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverência. O Mestre então conduziu-o à sala de meditação e o ensinou a praticar zazen.
Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen também é cuidar bem dos doentes e esforçar-se para o bem de sua família.



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