quinta-feira, 25 de outubro de 2018

TIGELAS






Certa vez um discípulo perguntou ao mestre Joshu:
— Mestre, por favor, o que é o despertar?
Joshu respondeu:
— Você já terminou de comer?
— Sim, mestre, terminei.
— Então, vá lavar suas tigelas!



sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O SÁBIO MESTRE




Há muito tempo atrás, havia um mestre que vivia junto com um grande número de discípulos em um templo arruinado.
Os discípulos sobreviviam através de esmolas e doações conseguidas numa cidade próxima.
Logo, muitos deles começaram a reclamar sobre as péssimas condições em que viviam.
Em resposta, o velho mestre disse um dia:
- Nós devemos reformar as paredes do templo. Desde que nós somente ocupamos o nosso tempo estudando e meditando, não há tempo para que possamos trabalhar e arrecadar o dinheiro que precisamos. Assim, eu pensei numa solução simples.
Todos os estudantes se reuniam diante do mestre, ansiosos em ouvir suas palavras. O mestre disse:
- Cada um de vocês deve ir para a cidade e roubar bens que poderão ser vendidos para a arrecadação de dinheiro. Desta forma, nós seremos capazes de fazer uma boa reforma em nosso templo.
Os estudantes ficaram espantados por este tipo de sugestão vir do sábio mestre. Mas, desde que todos tinham o maior respeito por ele, não fizeram nenhum protesto. O mestre disse logo a seguir, de modo bastante severo:
- No sentido de não manchar a nossa excelente reputação, por estarmos cometendo atos ilegais e imorais, solicito que cometam o roubo somente quando ninguém estiver olhando. Eu não quero que ninguém seja pego.
Quando o mestre se afastou, os estudantes discutiram o plano entre eles.
-É errado roubar - disse um deles, - Por que nosso mestre nos solicitou para cometermos este ato?
Outro respondeu em seguida,
- Isto permitirá que possamos reformar o nosso templo, na qual é uma boa causa.
 Assim, todos concordaram que o mestre era sábio e justo e deveria ter uma razão para fazer tal tipo de requisição. Logo, partiram em direção a cidade, prometendo coletivamente que eles não seriam pegos, para não causarem a desgraça para o templo.
- Sejam cuidadosos e não deixe que ninguém os veja roubando, - incentivavam uns aos outros.
Todos os estudantes, com exceção de um, foram para a cidade. O sábio mestre se aproximou dele e perguntou-lhe:
- Por que você ficou para trás?
O garoto respondeu:
- Eu não posso seguir as suas instruções para roubar onde ninguém esteja me vendo. Não importa aonde eu vá, eu sempre estarei olhando para mim mesmo. Meu próprios olhos irão me ver roubando.
O sábio mestre abraçou o garoto com um sorriso de alegria e disse:
- Eu somente estava testando a integridade dos meus estudantes e você é o único que passou no teste!
Após muitos anos, o garoto se tornou um grande mestre.


quarta-feira, 10 de outubro de 2018

FAZER O BEM



Na China antiga, havia um monge zen que, para evitar adormecer durante o zazen (meditação sentada), decidiu fazer sua prática sentando-se nos galhos de uma árvore. Assim, se perdesse a atenção, cairia. Tornou-se conhecido pela sua singularidade, e muitas pessoas vinham pedir a ele ensinamentos e conselhos.
Ora, nessa mesma área existia um poeta célebre, Sakuraten, que, ao tomar conhecimento da fama do monge, decidiu ir testá-lo. Assim que chegou e o encontrou em zazen, no galho da árvore, falou:
— Tome cuidado, monge, é perigoso. Um dia o senhor poderá cair.
— Talvez — respondeu o monge —, mas o senhor corre maior risco do que eu.
Sakuraten refletiu:
— Com efeito, vivo no mundo, controlado pelas paixões. — Perguntou, então: — Qual é a verdadeira essência dos ensinamentos de Buda?
O monge respondeu:
— Não faça o mal. Faça o bem. Faça o bem a todos os seres.
— Mas até uma criança de 3 anos sabe disso! — exclamou o poeta.
— Sim, mas é uma coisa difícil de ser praticada até mesmo por um velho de 80 anos... — completou o mestre.



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

KANTAKA E O FIO DE ARANHA





O Buddha, um dia, passeava no Céu Trayastrimsa, as margens do lago da Flor de Lótus. Nas profundezas do lago, lobrigava o Naraka (um tipo de região de demérito Kármico, na tradição do Buddhismo Mahayana). Nessa ocasião, viu ali um homem chamado Kantaka que morto dias antes, se debatia e padecia nas profundezas. 

Transbordando de compaixão, o Buddha Shakyamuni queria socorrer todos os que, embora se achassem mergulhados no Naraka, tivessem praticado uma boa ação na vida. Kantaka fora ladrão e levara uma existência devassa. Por isso mesmo estava no Naraka.
Certa vez, no entanto, agira com generosidade: um dia, enquanto passeavam, avistara uma inofensiva aranha e tivera vontade de esmagá-la; reprimira-se, contudo, pensando, subitamente, que talvez pudesse favorecê-la; deixara-a com vida e seguiu o seu caminho.
O Buddha Shakyamuni viu nessa ação generosa um bom espírito, e sentiu-se inclinado a ajudá-lo. Por isso fez descer as profundezas do lago um comprido fio de teia de aranha, que chegou ao Naraka no lugar onde estava Kantaka.
Kantaka olhou para a novidade e concluiu que se tratava de uma corda de prata muito forte. Mas, não querendo acreditar nisso, disse consigo que devia ser, sem dúvida, um fio de teia de aranha pendurado, muito fino, e que seria provavelmente dificílimo trepar por ele; mesmo assim, arriscaria tudo, pois desejava ardentemente sair daquele Naraka.
Agarrou, portanto o fio, embora não deixasse de pensar nos perigos da escalada, pois a linha poderia rebentar de um momento para outro; mas foi subindo... subindo... auxiliando-se com os pés e as mãos, e envidando grandes esforços para não escorregar.
A escalada era longa. Chegado à metade do caminho, quis olhar para baixo e contemplar os Narakas, que já tinham ficado, decerto, muito longe. Acima dele, via a luz e só ambicionava alcançá-la.
Inclinando-se para baixo, a fim de olhar pela derradeira vez, viu uma multidão de pessoas que também subiam pelo fio, numa sucessão ininterrupta, desde as grandes profundezas do Naraka.
Kantaka foi tomado de pânico: a corda poderia, quando muito, aguentá-lo; mas com o peso daquelas centenas de pessoas agarradas a ela acabaria cedendo, e todos, com ele, voltariam ao Naraka! Que azar! Que droga! Aquela gente lá embaixo não tinha nada que sair do Naraka. Por que precisa seguir-me? - praguejava ele, increspando os seguidores.
Nesse preciso momento, o fio cedeu, exatamente a altura das mãos de Kantaka, e todos remergulharam nas profundezas tenebrosas do lago. 
Naquele mesmo instante, o sol do meio-dia resplandecia sobre o lago em cujas margens tranquilas passeava o Buddha...



sábado, 6 de outubro de 2018

O MÉDICO E O ZEN



Kenso Kusuda, diretor de um hospital em Nihonbashi, Tóquio, recebeu um dia a visita de um velho amigo, também médico, que não via há sete anos.
- Como vai?, - perguntou Kusuda.
- Deixei a medicina, - respondeu o amigo.
- Ah, sim?
- Na verdade, agora eu pratico o Zen.
- E o que é o Zen? - quis saber Kusuda.
- É difícil explicar... - hesitou o amigo.
- E como é possível entendê-lo, então?
- Bem, deve-se praticá-lo.
- E como faço isso?
- Em Koishikawa, há uma sala de meditação dirigida pelo Mestre Nan-In. Se quiser experimentar, vá até lá."
No dia seguinte Kusuda dirigiu-se à sala de meditação do Mestre Nan-In. Ao chegar, gritou:
- Com licença!
- Quem é? responderam lá de dentro.
Um velho de aspecto miserável, que se aquecia junto a um fogareiro próximo ao vestíbulo, dirigiu-se a ele. Kusuda entregou-lhe seu cartão e o velho, após dar uma olhada, disse sorrindo:
- Olá!!! Faz tempo que o senhor não aparece!
- Mas... é a primeira vez que venho aqui! - disse Kusuda, surpreso.
- Ah, sim? É a primeira vez? Como está escrito 'Diretor de hospital', pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?
- Quero falar com o Mestre Nan-in.
- Já está falando com ele! - disse o velho, abrindo um largo sorriso.
- Então o Mestre Nan-in é o senhor?, - disse Kusuda meio desconfiado. Esperava alguém mais "venerável".
- Eu mesmo, - respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandar seu visitante entrar. Já meio desanimado e um tanto desdenhoso, Kusuda decidiu falar ali mesmo, de pé, no vestíbulo:
- Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen.
O velho olhou para ele e disse:
- Praticar o Zen? O senhor é um médico não? Deve então tratar bem de seus doentes e se esforçar para o bem de sua família, o Zen é isso. Agora, pode ir embora.
Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavras de Nan-In, três dias depois resolveu visitar novamente o velho Mestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestíbulo.
- Novamente o senhor aqui? O que deseja?
- Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen! - disse Kusuda petulantemente.
- Ora, nada tenho a acrescentar ao que já disse outro dia. Vá embora e seja um bom médico. - E fechou a porta.
Dois ou três dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre, pois absolutamente não conseguira entender suas palavras.
- Outra vez aqui?
- Eu vim porque não consegui entender suas palavras, por mais que pensasse sobre elas.
- Pensando nas palavras é que o senhor não vai entender coisa nenhuma mesmo! - disse o velho monge.
- Então o que eu devo fazer? - disse Kusuda, já quase desesperado.
- Procure perceber por si, ora essa! Agora, vá embora.
Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:
- Por três vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim até aqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me manda embora sem me dar o mínimo esclarecimento! Que espécie de mestre é o senhor, afinal!?!
- Ah! Finalmente ele zangou-se!, - exclamou o Mestre.
- Mas é EVIDENTE!, - desabafou o médico.
- Então agora chega de palavreado e seja educado! Faça-me uma saudação.
Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade de dar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverência. O Mestre então conduziu-o à sala de meditação e o ensinou a praticar zazen.
Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen também é cuidar bem dos doentes e esforçar-se para o bem de sua família.



quinta-feira, 4 de outubro de 2018

TRÊS GOLPES EM TOZAN




Tonzan foi à presença de Yun-men (Ummon? - 966). Este perguntou-lhe de onde Tozan estava chegando. Tozan disse: "Da aldeia Sato."
Yun-men quis saber:
- Em qual templo vós passastes o verão?
- No templo de Hoji, ao sul do lago, - disse Tozan de forma casual.
- Quando partistes de lá? - quis saber Yun-men.
- Em 25 de Agosto, - respondeu Tozan.
Yun-men então lhe afirmou:
- Eu deveria vos dar três golpes de bastão, mas hoje eu vos perdôo.
No dia seguinte Tozan foi até Yun-men, fez uma reverência e perguntou confuso:
- Ontem vós me perdoastes os três golpes. Entretanto eu não compreendo nem mesmo qual foi a falta que cometi para poder merecer sofrer os golpes que vós me perdoastes!
 Yun-men então repreendeu Tozan desta forma:
- Vós sois inútil. Suas respostas ontem foram sem espírito. Vós simplesmente vagueais de um mosteiro para o outro!
Ao ouvir as palavras de Yun-men, Tozan obteve o Satori.



terça-feira, 2 de outubro de 2018

CARROÇA




Um Imperador, sabendo que um grande sábio Zen estava às portas de seu palácio, foi até ele para fazer uma importante pergunta:
- Mestre, onde está o Eu?
O mestre então pediu-lhe:
- Por favor traga-me aquela carroça que está lá.
A carroça foi trazida.
O sábio perguntou:
- O que é isso?
- Uma carroça, é claro,- respondeu o Imperador.
O mestre pediu que retirasse os cavalos que puxavam a carroça. Então disse:
- Os cavalos são a carroça?
- Não.
O mestre pediu que as rodas fossem retiradas.
-As rodas são a carroça?
- Não, mestre.
O mestre pediu que retirassem os assentos.
- Os assentos são a carroça?
- Não, eles não são a carroça.
Finalmente apontou para o eixo e falou:
- O eixo é a carroça?
- Não, mestre, não são.
 Então o sábio concluiu:
- Da mesma forma que a carroça, o Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não está aqui, não está lá. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E não existindo, ele existe.
Dito isso, ele começou a se afastar do surpreso monarca. Quando estava já afastado, voltou-se e perguntou-lhe:
- Onde Eu estou?



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