quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

VACUIDADE



“O senso de abertura que pessoas vivenciam quando repousam suas mentes é conhecido nos termos do budismo como vacuidade, que é provavelmente uma das palavras mais mal-entendidas da filosofia budista. Já é difícil para os próprios budistas compreender o termo, mas os leitores ocidentais têm ainda mais dificuldade, já que muitos dos primeiros tradutores dos textos budistas em sânscrito e tibetano interpretavam a vacuidade como “o Vazio” ou o nada — erroneamente relacionando a vacuidade com a ideia de que nada existe. Nada estaria mais longe da verdade que o Buda buscava descrever.

Apesar de o Buda de fato ter ensinado que a natureza da mente — na verdade, a natureza de todos os fenômenos — é a vacuidade, ele não quis dizer que sua natureza fosse verdadeiramente vazia, como um vácuo. Ele disse que ela era vacuidade, termo que, em tibetano, é composto de duas palavras: tongpa-nyi. 
A palavra tonpa significa “vazio”, mas somente no sentido de algo além de nossa habilidade de perceber com nossos sentidos e nossa capacidade de conceitualizar. Talvez uma tradução melhor fosse “inconcebível” ou “que não pode ser nomeado”. A palavra nyi, por sua vez, não tem nenhum significado específico no vocabulário tibetano cotidiano. Mas, ao ser agregada a outra palavra, ela transmite um senso de “possibilidade” — um senso de que tudo pode surgir, tudo pode acontecer. 
Então, quando os budistas falam da vacuidade, eles não querem dizer “o nada”, mas sim um potencial ilimitado que algo tem de surgir, mudar ou desaparecer.
Talvez possamos usar, neste ponto, uma analogia com o que os físicos contemporâneos aprenderam sobre os estranhos e maravilhosos fenômenos que observam quando examinam o funcionamento interno de um átomo. 
De acordo com os físicos com os quais conversei, a base de todos os fenômenos subatômicos é muitas vezes chamada de estado de vácuo, o estado de menor energia no universo subatômico. 
No estado de vácuo, as partículas continuamente aparecem e desaparecem. Assim, apesar de aparentemente vazio, esse estado é, na verdade, muito ativo, repleto do potencial de produzir alguma coisa, qualquer coisa.
 Nesse sentido, o vácuo compartilha certas características com a “qualidade vazia da mente”. Assim como o vácuo é considerado “vazio”, mas, ao mesmo tempo, é a fonte da qual toda espécie de partículas surge, a mente é essencialmente “vazia” no sentido de que desafia a descrição absoluta. 
Entretanto, todos os pensamentos, emoções e sensações perpetuamente surgem a partir dessa base indefinível e incompletamente conhecida.
Como a natureza de sua mente é a vacuidade, você possui a capacidade potencialmente ilimitada de vivenciar uma variedade de pensamentos, emoções e sensações. Mesmo os mal-entendidos sobre a vacuidade não passam de fenômenos que surgem da vacuidade! 
Um simples exemplo pode ajudá-lo a obter algum entendimento da vacuidade em um nível experimental. 
Alguns anos atrás, um estudante me procurou pedindo ensinamentos sobre a vacuidade.
Dei-lhe as explicações básicas e ele pareceu bem satisfeito — eletrizado, até. “Isso é tão legal!”, ele exclamou ao final de nossa conversa. Minha própria experiência me ensinou que a vacuidade não é tão fácil de entender depois de uma lição, então sugeri que ele passasse os próximos dias meditando sobre o que aprendera. 
Alguns dias depois, o aluno chegou sem aviso no lado de fora do meu quarto com uma expressão de horror no rosto. Pálido, arqueado e tremendo, ele entrou no quarto vacilante, como alguém que estivesse testando o chão à sua frente para ver se não se tratava de areia movediça.
Quando finalmente parou na minha frente, ele disse: “Rinpoche, você me disse para meditar sobre a vacuidade. Mas, na noite anterior, me ocorreu que, se tudo é vacuidade, então o prédio inteiro é vacuidade, o piso é vacuidade e o chão embaixo do piso é vacuidade. Se esse é o caso, por que todos nós não afundamos e caímos nas profundezas de um buraco no chão?”
Eu esperei até que ele terminasse de falar. Então, perguntei: “Quem cairia?” Ele pensou a respeito por um momento e sua expressão mudou completamente.
“Ah”, ele exclamou, “entendi! Se o prédio é vacuidade e as pessoas são vacuidade, não há ninguém para cair e nada por onde cair”.
Ele soltou um longo suspiro, seu corpo relaxou e a cor voltou a seu rosto. Então, sugeri que ele voltasse a meditar sobre a vacuidade com essa nova compreensão.
Dois ou três dias depois, ele retornou a meu quarto sem aviso. Novamente pálido e trêmulo, ele entrou no quarto e parecia bem evidente que estava fazendo o máximo de esforço para prender a respiração, com medo de expirar o ar. 
Sentando-se na minha frente, ele disse: “Rinpoche, meditei sobre a vacuidade como você instruiu e entendi que, da mesma forma como o prédio e o chão são vacuidade, também sou vacuidade. Mas, à medida que me mantive seguindo essa linha de meditação, continuei me aprofundando cada vez mais, até que não fui mais capaz de ver ou sentir nada. Se eu não for nada além de vacuidade, tenho medo de morrer. Por isso corri para vê- lo hoje. Se eu for só vacuidade, então basicamente não sou nada, e não há nada para impedir que eu me dissolva no vazio.”
Quando vi que ele havia terminado, perguntei: “Quem se dissolveria?”
Esperei alguns momentos para que ele absorvesse a questão e pressionei mais um pouco: “Você está confundindo vacuidade com vazio. 
Quase todo mundo comete o mesmo erro no começo, tentando compreender a vacuidade como uma ideia ou um conceito. Eu mesmo cometi esse erro. Não há como entender a vacuidade conceitualmente. Você só pode reconhecê-la de fato por meio da experiência direta. 
Não estou pedindo que você acredite em mim. Tudo o que estou dizendo é que, nas próximas vezes em que você se sentar para meditar, deve perguntar a si mesmo: ‘Se a natureza de tudo é a vacuidade, quem ou o que pode dissolver-se? Quem ou o que nasce e quem ou o que pode morrer?’ Tente isso e você pode se surpreender com a resposta.” Com um suspiro, ele concordou em tentar de novo.
Vários dias mais tarde, ele voltou a meu quarto, sorrindo tranquilamente ao anunciar: “Acho que estou começando a entender a vacuidade.” Eu pedi que me explicasse. “Segui suas instruções e, depois de meditar sobre o assunto por um longo tempo, percebi que a vacuidade não é o nada, porque deve haver algo antes de haver o nada. A vacuidade é tudo — todas as possibilidades da existência e da não-existência imagináveis ocorrendo simultaneamente. Assim, se a sua verdadeira natureza for a vacuidade, então não se pode dizer que alguém realmente morre e não se pode dizer que alguém realmente nasce, porque a possibilidade de ser de certa forma e não ser de certa forma está presente dentro de nós em todos os momentos.”
“Muito bem”, eu disse. “Agora esqueça tudo o que você acabou de dizer, porque, se tentar lembrar-se exatamente disso, transformará tudo o que aprendeu em um conceito e precisaremos começar tudo de novo.”
 YONGEY MINGYUR RINPOCHE
Do livro “A Alegria de Viver – Descobrindo o Segredo da Felicidade”



sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

SEM MOTIVO




Certo dia, três amigos passeavam e viram um homem no cume de um pequeno monte, sentado. 
Curiosos sobre o que estaria o homem fazendo, foram até ele, usando a trilha na encosta.
Chegando lá, o primeiro disse:
- Olá, está esperando um amigo?
- Não... - respondeu o outro.
O segundo homem replicou:
- Então está respirando o ar puro!
-Não... - disse o estranho.
O terceiro amigo disse:
- Já sei! Você estava passando e resolveu olhar este belo cenário.
- Não, na verdade... - repetiu o homem.
Os três amigos então exclamaram ao mesmo tempo, estupefatos:
- Mas então, o que faz aqui?! O homem disse com um suave sorriso:
- Apenas ESTOU aqui...




O VERÃO ZEN






Ao terminar o Verão, Yang-shan fez uma visita a Kuei-shan, que lhe perguntou:
- Não vos vi por aqui todo o Verão, o que fizestes?"
Yang-shan replicou:
- Estive cultivando um pedaço de terra e terminei de plantar umas sementes.
-Então, - comentou Kuei-shan, - não desperdiçastes o vosso Verão.
Por sua vez, Yang-shan disse:
- E vós, como passastes o Verão?
- Uma refeição por dia e um bom sono à noite, - argumentou o outro.
-Então, - foi a vez de Yang-shan comentar, - não desperdiçastes o vosso Verão.
Koan: Buscamos a Verdade longe, mas ela está sempre próxima de nós.



quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

POR QUE PALAVRAS?



Um monge aproximou-se de seu mestre - que se encontrava em meditação no pátio do Templo à luz da lua - com uma grande dúvida:
- Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio
. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. 
Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?
O velho sábio respondeu:
- As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta.
O monge replicou:
- Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?
- Poderia, - confirmou o mestre, - e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. 
As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. 
O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio.
- Então, - o monge perguntou, - por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?
- Porque, - completou o sábio, - da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. 
Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário.
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.




quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

INFERNO




Um homem perguntou ao mestre Zen:
- Onde estará o senhor daqui a cem anos?
- Renascido como um cavalo ou um burro, - respondeu o velho sábio.
- Oh!, - exclamou o homem , confuso. - E depois disso?
- Renascerei em um Naraka - (Região de demérito kármico, associada ao semita "Inferno")  - declarou o mestre.
- Mas... o senhor é um homem bom e sábio, por que tal coisa aconteceria? - perguntou o homem.
- Se não renascer lá para ensinar o Dharma, quem o fará?
.
** Koan: O Dharma está em toda parte. Onde tu estarás daqui a cem anos?



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

BAMBU LONGO, BAMBU CURTO






Certa vez, durante uma palestra, um monge perguntou a um mestre Zen:
- Qual o significado fundamental do Budismo?
O mestre disse:
- Ao final da palestra fique aqui sozinho comigo que eu lhe explicarei.
Imaginando que algo muito importante lhe seria revelado, o monge esperou impaciente o fim da preleção.
 Quando todos saíram, ele perguntou ansioso:
- Então, responder-me-ás agora?
- Siga-me, - disse o mestre e levantou-se. 
Conduziu o monge ao belo jardim aos fundos do templo, apontou para o bosque de bambus e disse:
- Este bambu é longo, aquele é curto.



sábado, 15 de dezembro de 2018

DANDO QUE SE RECEBE



Um discípulo perguntou ao seu mestre Zen:
- Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?
 Respondeu o mestre:
- Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a Mãe Terra.






quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

CHUVA





Num dia chuvoso, quando estava sentado com um discípulo no salão do templo e ouvindo as gotas d'água batendo suavemente no telhado e no pátio, o mestre Jing-qing perguntou ao outro monge:
- Que som é aquele lá fora?
- É a chuva, - respondeu o monge.
O mestre disse:
- Ao buscar fora de si mesmos alguma coisa, todos os seres se confundem com os significados.
- Então, - replicou o discípulo, - como deveria eu me sentir em relação ao que percebo, Mestre?
O sábio apenas disse:
- Eu sou o barulho da chuva.



terça-feira, 11 de dezembro de 2018

ONDE COMEÇA O CAMINHO?





Um dia, um discípulo foi ao mestre Kian-fang e perguntou-lhe:
- Todas as direções levam ao caminho de Buddha, mas apenas uma conduz ao Nirvana. Por favor, mestre, diga-me onde começa este Caminho?
O velho mestre fez um risco no chão com seu bastão e disse:
- Aqui



segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

O QUEBRADOR DE PEDRAS




Era uma vez um simples quebrador de pedras que estava insatisfeito consigo mesmo e com sua posição na vida. 
Um dia ele passou em frente a uma rica casa de um comerciante. Através do portal aberto, ele viu muitos objetos valiosos e luxuosos e importantes figuras que freqüentavam a mansão.
- Quão poderoso é este mercador! - pensou o quebrador de pedras. Ele ficou muito invejoso disso e desejou que ele pudesse ser como o comerciante. Para sua grande surpresa ele repentinamente tornou-se o comerciante, usufruindo mais luxos e poder do que ele jamais tinha imaginado, embora fosse invejado e detestado por todos aqueles menos poderosos e ricos do que ele.
Um dia um alto oficial do governo passou à sua frente na rua, carregado em uma liteira de seda, acompanhado por submissos atendentes e escoltado por soldados, que batiam gongos para afastar a plebe. Todos, não importa quão ricos, tinham que se curvar à sua passagem.
- Quão poderoso é este oficial! - ele pensou. - Gostaria de poder ser um alto oficial!
Então ele tornou-se o alto oficial, carregado em sua liteira de seda para qualquer lugar que fosse, temido e odiado pelas pessoas à sua volta. Era um dia de verão quente, e o oficial sentiu-se muito desconfortável na suada liteira de seda. Ele olhou para o Sol. Este fulgia orgulhoso no céu, indiferente pela sua reles presença abaixo.
- Quão poderoso é o Sol! - ele pensou. - Gostaria de ser o Sol! - Então ele tornou-se o Sol. Brilhando ferozmente, lançando seus raios para a terra sobre tudo e todos, crestando os campos, amaldiçoado pelos fazendeiros e trabalhadores. Mas um dia uma gigantesca nuvem negra ficou entre ele e a terra, e seu calor não mais pôde alcançar o chão e tudo sobre ele.
- Quão poderosa é a nuvem de tempestade! - ele pensou - Gostaria de ser uma nuvem! - Então ele tornou-se a nuvem, inundando com chuva campos e vilas, causando temor a todos. Mas repentinamente ele percebeu que estava sendo empurrado para longe com uma força descomunal, e soube que era o vento que fazia isso.
- Quão poderoso é o Vento! - ele pensou.
- Gostaria de ser o vento! - Então ele tornou-se o vento de furacão, soprando as telhas dos telhados das casas, desenraizando árvores, temido e odiado por todas as criaturas na terra. Mas em determinado momento ele encontrou algo que ele não foi capaz de mover nem um milímetro, não importasse o quanto ele soprasse em sua volta, lançando-lhe rajadas de ar. Ele viu que o objeto era uma grande e alta rocha.
- Quão poderosa é a rocha! - ele pensou. - Gostaria de ser uma rocha! - Então ele tornou-se a rocha. 
Mais poderoso do que qualquer outra coisa na terra, eterno, inamovível. Mas enquanto ele estava lá, orgulhoso pela sua força, ele ouviu o som de um martelo batendo em um cinzel sobre uma dura superfície, e sentiu a si mesmo sendo despedaçado.
- O que poderia ser mais poderoso do que uma rocha?!? - pensou surpreso.
Ele olhou para baixo de si e viu a figura de um quebrador de pedras.







HOMEM OU MULHER - NÃO FAZ DIFERENÇA





Uma monja vivia preocupada e mortificada porque, segundo tinha lido num texto, o fato de ser uma mulher obstaculizava seu caminho espiritual; que toda mulher deveria ansiar por renascer como homem, para que assim pudesse desenvolver-se no Caminho. 
Como ela tinha lido tal coisa em um Sutra, ela imaginou que isso seria algo real e sério, mas não entendia como poderia ser assim.
 Um dia, buscou o mestre Long-tan e perguntou-lhe:
- Mestre, li em um Sutra que ser uma mulher é algo ruim, e que devo me aperfeiçoar para que, um dia, possa renascer como um homem e assim poder atingir a sabedoria. Mas como posso fazer isso? O que devo fazer para renascer como um homem?
O mestre simplesmente perguntou-lhe:
- Há quanto tempo és uma monja?
- Mas... - replicou a monja - eu não perguntei sobre isso. Perguntei como posso um dia renascer como homem!
- O que tu és agora? - perguntou o mestre.
- Uma mulher, ora! - respondeu a monja, surpresa. - Quem não sabe disso?
- E quem realmente conhece tua verdadeira natureza para, a partir do fato de seres uma mulher, sentenciar tolamente que tua condição feminina lhe impede de compreender o Dharma? disse Long-tan.
Neste momento a monja obteve o Satori.





sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

ESTOU AQUI





Um velho monge estava secando vegetais sob o inclemente sol do meio-dia. Um homem aproximou-se solícito e disse:
- Quantos anos tens?
- Sessenta e Oito, disse o ancião.
- Por que trabalhas tanto aqui no templo?
- Porque aqui no templo tem tanto trabalho a fazer, - replicou o monge.
- Mas porque trabalha sob este sol tão quente?
- Porque o sol quente está lá, e meu trabalho é aqui.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

DIVERSOS




CRÍTICA E ELOGIO

Durante um reinado da Dinastia Tang, na China, um dos ministros comentou com o imperador:
— Algumas pessoas estão difamando Vossa Majestade.
O imperador respondeu:
— Como soberano, se acaso me cabe alguma virtude, não posso ter medo de ser difamado pelas pessoas. O que mais devo temer é ser elogiado sem ter nenhuma virtude.



NÃO OUSO DIZER

Pai-chang (720-814. d. C.) certa vez questionou a Nan-chuan (748-834. d.C.):
- Há alguma verdade que nenhum sábio como vós jamais ousou dizer até hoje?
- Sim,- respondeu Nan-chuan.
O outro continuou:
- E qual é, então, esta coisa sobre a qual não falais?
Respondeu o mestre:
- Não é nem Mente, nem Buddha, nem Matéria. 


A VACA ZEN

Shih-kung, um dia, trabalhava na cozinha quando Ma-tsu aproximou-se e perguntou o que fazia.
- Estou cuidando da Vaca - disse o outro, enquanto lavava os pratos.
- Como cuidais da vaca? - desejou saber o mestre.
- Se ela se afasta da Senda, eu puxo-a de volta pelo focinho. Não posso me distrair nem um minuto!
Comentou Ma-tsu:
- Sabeis realmente cuidar dela.
  

A  VELHA E O BUDDHA
Havia uma velha mulher que vivia no lado leste da cidade em que também morava o Buddha. 
Ela nascera quando tinha nascido Gautama, e tinha vivido toda sua vida acompanhando a estória de Sua vida, uma vez que era sua contemporânea.
 Entretanto, ela nunca quis vê-lo, ou falar com ele. Sempre que ouvia que Buddha se aproximava, ela fugia de sua presença, tentando por todos os modos evitar-lhe o olhar, correndo para aqui e para ali, escondendo-se.
Mas certo dia, ela estava em um local de onde não podia sair ou se esconder.
 Buddha se aproximava, e a velha mulher, desesperada em seu terror de encontrar tal homem, já não sabia o que fazer. 
Então, no último momento, ela fez a única coisa possível para evitar ver o Buddha: ergueu ambas as mãos à frente de seu rosto, tapando assim sua visão.
 Neste momento, maravilhosamente, o rosto de Buddha apareceu entre cada um de seus dez dedos.


 MENTE E NÃO-MENTE 

Um monge perguntou a Ta-chu:
- São as palavras a Mente?

- Não, as palavras são condições externas. Elas não são a Mente,- disse o mestre.

- Então onde, fora das condições externas, podemos encontrar a Mente?

-Não há Mente além das palavras, - declarou o sábio.

-Não havendo Mente independente das palavras, o que é afinal a Mente? - perguntou o monge, confuso.

- A Mente é sem forma e sem imagens. Em verdade, ela nem depende nem é independente das palavras. É eternamente serena e livre em seu movimento.


 NÃO TENHO NADA

Um jovem monge aproximou-se de Chao-chou muito orgulhoso e eufórico, e disse:
- Me desfiz de tudo o que tinha! Minhas mãos estão vazias e vim à vós com o coração sereno!
- Então resta apenas desfazeres-te disso, e chegarás ao Zen. - Afirmou o mestre.
- Mas, - replicou o monge, - não tenho mais nada. Do que mais posso me desfazer?
 - Tudo bem, - comentou o sábio, - se tu queres manter o Nada que ainda carregas, fique com ele...






quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

ISSO TAMBÉM PASSARÁ




Um praticante foi até o seu professor de meditação, tristemente, e disse:
- Minha prática de meditação é horrível! Ou eu fico distraído, ou minhas pernas doem muito, ou eu constantemente fico com sono. É simplesmente horrível!!!!
- Isso passará, - o professor disse suavemente.
Uma semana depois, o estudante retornou ao seu professor, eufórico:
- Minha prática de meditação é maravilhosa! Eu sinto-me tão consciente, tão pacífico, tão relaxado, tão vivo! É simplesmente maravilhoso!!!!!
O mestre disse tranquilamente:
- Isso também passará.





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