domingo, 30 de setembro de 2018

A MORTE DE BUDDHA




Assim eu ouvi:
Estava o Abençoado - já adentrado em anos - caminhando no Bosque de Upavartana, em companhia de seu dileto discípulo Ananda, quando subitamente sentiu-se fatigado. Deitou-se um pouco para descansar, com Ananda a seu lado. Após um tempo, sentiu-se melhor e levantou-se.
Um pouco mais adiante na senda, o Venerável voltou a parar, fatigado. Logo após algum tempo em descanso, levantou-se. Então, pela terceira vez, sentiu-se muito cansado, e Ananda, aflito, o ajudou a deitar-se à sombra de uma árvore. O Abençoado então disse a seu discípulo:
- Busque meus discípulos e reuna-os à minha volta, pois o Tathagata em breve terá sua personalidade extinta.
Quando os discípulos se assentaram, disse o Buddha muitas coisas sábias, e então disse a Ananda, mas falava para todo o Sangha:
- Preguei o Dharma sem limites entre o oculto e o revelado, pois no tocante à Verdade o Tathagata não tem nada que se assemelhe ao punho cerrado de um instrutor que oculta alguma coisa.   
Já sou velho, Ananda, tenho oitenta anos e termino meus caminhos e meus dias; assim como uma velha carroça que vagamente roda na estrada, assim meu corpo se sustenta com muita fragilidade. Meu corpo só está bem quando mergulho no equilíbrio da meditação.
Por isso, monges, permanecei na Senda, e assim deveis vos guiar pelos Preceitos.
Que o Dharma e as regras do Sangha sejam vosso mestre quando eu partir; e que o Sangha saiba derrogar, se convier, os preceitos de pouca importância. Se conseguirdes guardar bem os Preceitos, disso resultará a Boa Lei.
Se não conseguirdes guardar de forma correta o sentido dos Preceitos, então seus pretensos atos de benevolência serão destituídos de méritos reais.
 Assim, pois, Ananda, sede vossas próprias lâmpadas. Apoiai-vos em vós mesmos e não em nenhum sustentáculo externo. Sustentai-vos apenas na Verdade. Que ela seja vossa bandeira e refúgio.
Dirigindo-se à assembléia, perguntou:
- Se ainda entre vós alguém abriga dúvidas, que a exponha livremente, pois meu tempo de responder a todas as dúvidas está encurtando.
Ananda disse, após um período:
- Certamente, dentre os que aqui se encontram não há ninguém que abrigue dúvidas ou receios acerca do Buddha, do Dharma e da Senda.
Então o Abençoado proferiu suas últimas palavras:
- Decadência é inerente a todas as coisas existentes, porém o Dharma perdurará eternamente. Busquem com afinco por sua libertação.
Neste momento o Buddha entrou em meditação, e expirou tranqüilamente.



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