sábado, 25 de abril de 2015

O DIAMANTE






Um peregrino que resolveu passar a noite debaixo de uma árvore num bosque próximo do povoado. No mais profundo das trevas, porque era noite fechada sem lua nem estrelas, ouviu que alguém lhe gritava:
_ A pedra! A pedra! Dê-me a pedra preciosa, peregrino de Shiva.
O homem levantou-se, aproximou-se do indivíduo que lhe gritava e lhe disse:
_ O que você quer, irmão?
_ Na noite passada _ disse-lhe o homem com voz agitada _, tive um sonho em que o Senhor Shiva me disse que se viesse aqui esta noite, eu encontraria um peregrino que me daria uma pedra preciosa, tornando-me rico para sempre.
O peregrino mexeu em sua bolsa e lhe deu a pedra dizendo:
_ Encontrei-a num bosque perto do rio. Pode ficar com ela.
 O desconhecido pegou a pedra e foi para casa.
Ao chegar, abriu a mão, contemplou a pedra e viu que era um diamante. Não pôde dormir durante a noite, de emoção. Virava-se e revirava-se na cama sem poder conciliar o sono.
Levantou-se com o nascer do sol, voltou ao lugar onde deixava o peregrino e lhe disse:
_ Dê-me, por favor, a riqueza que lhe permite desapegar-se com tanta facilidade de um diamante.




quarta-feira, 22 de abril de 2015

PEGADAS NA AREIA



PEGADAS NA AREIA


            Na noite passada, sonhei que caminhava com Jesus na praia sob uma luz prateada. Apareciam no céu cenas de meu passado que eu contemplava atônito. Em cada cena, via duas fileiras de passos firmes que ficavam gravados na areia. Eram as minhas pegadas e as pegadas do Senhor. Mas observei que em alguns trechos do caminho de minha vida, sobretudo nos momentos mais problemáticos e difíceis, quando meu coração se desfazia de angústia e de tristeza, só aparecia uma fileira de pegadas.
Olhei então para o Senhor e lhe disse com ar de protesto:
_ Não entendo, Senhor. Tu me disseste que se eu resolvesse seguir-te, sempre caminharias a meu lado, e agora vejo que nas partes mais difíceis da minha vida só há uma fileira de pegadas, indicando que me deixaste só quando eu mais precisava de tua ajuda.
Então o Senhor me acariciou com o mais doce dos olhares e me disse:
_ Compreendo sua confusão e surpresa. Mas eu nunca deixei você sozinho. Se olhar com atenção, você verá que nesses momentos de sua vida, quando só aparece uma fileira de pegadas, as marcas aparecem afundadas mais profundamente na areia. É que, nessas ocasiões, eu levava você carregado em meus braços.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

ESTRESSE





O ESTRESSE





Derivada da palavra inglesa stress, o termo era originalmente empregado em física, no sentido de traduzir o grau de deformidade sofrido por um material quando submetido a um esforço, ou tensão.  Em l936 Hans Selye introduziu a expressão no jargão médico e biológico, expressando o esforço de adaptação dos mamíferos para enfrentar situações que o organismo perceba como ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interior.





Para a adequada compreensão do papel que, ao longo dos próximos capítulos, se atribuirá ao estresse, às emoções e aos conflitos psíquicos na gênese das doenças, alguns aspectos fundamentais do estresse _ como originalmente proposto por Selye _ precisam ser aqui discutidos.



Em primeiro lugar, cabe lembrar que os seres vivos assim permanecem _ isto é, com vida _ enquanto conseguirem manter um estado de equilíbrio interior chamado por Cannon de homiostase. Segundo tal concepção, qualquer modificação percebida pelo organismo nesse status quo seria sentida como ameaça a sua vida _ enquanto sistema organizado _ e desencadearia toda uma situação de alarme e preparação para fazer face ao perigo.





À percepção dessa ameaça, o cérebro emitiria ordens para a mobilização de defesas e o sistema simpático seria ativado, com a conseqüente descarga de catecolaminas no sangue. Imagine-se, para facilitar a compreensão, a situação hipotética de um rato perseguido por um gato.



Ao dar-se conta do perigo, todo o organismo do rato, em resposta à descarga adrenérgica ordenada pelo cérebro através do simpático, prepara-se para fazer face à ameaça: o coração “bate” mais rápido e mais forte, de forma que mais sangue (energia) seja fornecido aos músculos; a respiração se acelera e, consequentemente, mais oxigênio é disponível; as pupilas dos olhos se dilatam, e assim o animal enxerga melhor; os pêlos se eriçam na esperança (vã no caso) de apresentar aspecto assustador ao inimigo. Todas essas alterações caracterizam o estresse, ou a tensão a que o organismo do rato está submetido naquele momento de perigo.



Ocorreu nele o que podemos chamar de “reação geral de alarme”, aproximadamente similar à azáfama e movimentação que ocorreria em um quartel, por exemplo, se soasse o alarme antiaéreo. Percebam que toda a tensão gerada no organismo do animal encontrará um desaguadouro na utilização de seus músculos, isto é, na realização de algum tipo de atividade física, visto que o rato: ou fugirá (mais provável no exemplo dado) ou enfrentará o agressor. Percebam ainda que, em qualquer das duas hipóteses, ele terá utilizado os músculos que obedecem a sua vontade: o das patas e das mandíbulas, que são  músculos ditos “estriados” (por conter estrias).





Uma das importantes características do estresse é ser uniforme e inespecífico. Isto é, a preparação do organismo será idêntica para qualquer tipo de ameaça ou agressão, independente da natureza ou do grau de perigo que represente. Na verdade, a ocorrência do estresse não requer necessariamente que haja perigo real mas apenas uma súbita mudança, ou ameaça de mudança, no estado de equilíbrio. Desse modo, até uma boa notícia pode ser causa de estresse.



No caso dos seres humanos, o processo de estresse é basicamente o mesmo verificado nos outros animais (inclusive no rato do exemplo), com duas grandes diferenças:  em primeiro lugar, as ameaças do mundo externo ao “eu” do indivíduo são de múltiplas origens e em sua percepção há um forte componente subjetivo _ isto é, o componente imaginário, provindo do interior da pessoa, é muito mais significativo. Em segundo lugar, e não menos importante, a descarga da tensão gerada pela sensação de perigo ocorre principalmente sobre a musculatura que não depende de sua vontade: a chamada musculatura lisa (isto é, sem estrias), que é justamente o tipo de musculatura responsável pela movimentação do estômago, dos intestinos, das artérias e do coração. (Neste último, o músculo não é do tipo liso mas, como nesse tipo, tampouco obedece ao consciente da pessoa).





Tal como fizemos no caso do rato, imagine-se a situação de um empregado que recebe, ou está em via de receber uma violenta “bronca” do patrão. Seu organismo fica sob tensão e se prepara, da mesma forma que ocorre com o rato do exemplo anterior, para enfrentar a situação que vê e sente como ameaçadora e perigosa. Ou seja, todo o seu corpo se apresta para as duas reações naturais de qualquer animal diante do perigo: agressão ou fuga.



A grande diferença é que esse empregado não sairá correndo, nem agredirá fisicamente (salvo uma ou outra exceção) seu patrão, a despeito do enorme desejo de fazê-lo. A conseqüência consistirá em que venham a sofrer essa descarga _ ou, em outras palavras, funcionem como “órgãos de choque” _ justamente aqueles órgãos acima citados: estômago, intestinos, artérias, coração, etc. Com a repetição desse mecanismo ao longo da vida (nas mais diversas situações), a pessoa adquirirá gastrite, úlcera, mau funcionamento do intestino, “pressão alta” e infarto do miocárdio. Nas artérias _ vasos sanguíneos que conduzem o sangue rico em oxigênio do coração para o resto do corpo, ao contrário das veias, que trazem sangue com pouco oxigênio do corpo para o coração também regidas por musculaturas lisa, a constante tensão gerada pela ação das catecolaminas acabará por “ferir” sua parede interna, possibilitando o depósito de placas de gordura (chamadas ateromas) que finalmente as obstruirão.




O potencial nocivo, ou causador de doenças, criado pelas situações estressantes dependerá do tipo e da intensidade do estresse mas, provavelmente, dependerá sobretudo de sua repetição e duração ao longo da vida e da forma como cada um lida com ele.



Quanto ao tipo, pode-se didaticamente agrupar as fontes de estresse nos três “compartimentos” em que se insere a vida de uma pessoa, embora evidentemente as coisas não sejam tão simples e não se passem como se tratássemos de divisões estanques. Esses compartimentos são: a família, o   trabalho e o ambiente em que vive a pessoa. O último caso corresponde ao chamado estresse “social” ou “ambiental”, no qual se incluíram os problemas com vizinhos, com o vendedor ou o profissional que lhe presta serviços, as discussões no trânsito, etc. Incluem-se ainda no estresse ambiental a sensação de insegurança física vigente em nossas cidades e até as incertezas na área da instável economia do país.



As situações estressantes relacionadas à família e ao trabalho são, a meu ver, as mais graves, não só pela natureza e multiplicidade das facetas que encerram, mas principalmente por configurar, na maioria das vezes, uma fonte permanente de tensão ao longo da vida. Ou seja, configuram situações de estresse crônico e duradouro. 




Esse componente individual independe da profissão e do meio em que vive a pessoa. Obviamente que,  em condições ambientais propícias, como as que predominam em nossas grandes cidades e na sociedade ocidental, a predisposição psíquica ao estresse se exarcebaria e refletiria de forma mais intensa no comportamento do indivíduo. Uma observação corriqueira ilustra bem essas diferenças: em um engarrafamento de trânsito, há os que xingam, buzinam, trocam constantemente de fila, aborrecem-se; no mesmo engarrafamento, há aqueles (minoria, infelizmente) que pacientemente aguardam sua vez, ouvindo música ou simplesmente “pensando na vida”.



Na verdade, é a forma pela qual reagimos aos acontecimentos da vida e a maneira como os interpretamos e sentimos que, mais que o acontecimento em si, nos provoca estresse. Acredito _ e esta crença permeará todo este livro _ que, nos seres humanos, a grande determinante do potencial nocivo do estresse é um estado interior de insatisfação consigo mesmo e com a vida. Ao contrário do que ocorre com os animais, portanto, o que hoje nos ameaça a vida e a saúde não são, como regra, os perigos que vêm de fora, e sim aqueles que trazemos dentro de nós mesmos.
(desconheço o autor)





quinta-feira, 9 de abril de 2015

O DESCONFIADO






 Três amigos saíram para uma excursão na montanha. Levavam provisões abundantes e se detiveram durante o percurso para fazer um lanche. 

Pegaram os sanduíches, queijo, presunto, mas nenhum dos três levara nada para beber. Não muito longe, ouvia-se a voz de um rio cristalino, embora representasse certo esforço chegar até ele e buscar água.

 Como o lugar onde estavam lhes pareceu ideal para acampar, decidiram ficar ali e deixaram à sorte a decisão de quem iria buscar água.
_ Eu não vou _ disse com verdadeiro desagrado o rapaz que foi sorteado para descer até o rio.
_ Por que? _ disseram os outros dois muito surpresos.
_ Não há dúvida de que, enquanto eu for buscar água, vocês comerão tudo e não me deixarão nada.
_ Prometemos a você não comer absolutamente nada até você voltar.
_ Não acredito em vocês, estão me enganando. É certo que planejam tudo isso para ficar com toda a comida.
_ Por favor, não nos ofenda, damos-lhe nossa palavra de que sequer tocaremos na comida.

Por fim, a contragosto e não inteiramente convencido, o rapaz pegou o cantil e foi-se em busca da água.

Passou-se uma hora e o rapaz não voltava.

Passou-se outra hora e nada. Como a tarde já estava caindo e temendo que tivesse se perdido, os outros dois saíram para procurá-lo.

_ Vamos fazer uma refeição rápida, pois podem nos faltar as forças necessárias, já que não sabemos por onde ele andará _ disse um deles.  _ Talvez tenhamos de passar a noite acordados. Deus queira que não lhe tenha acontecido nada e não tardemos em encontrá-lo.

Quando iam levar à boca o primeiro bocado de comida, o companheiro saiu de detrás de uma moita dizendo:
 
_ Eu sabia, eu sabia! Estava certo de que iam enganar-me. Se tocarem no lanche, não vou buscar a água.

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