Meditação: Não é o que você pensa - Por Wendy Hasenkamp. Mind and Life Institute
Você tem familiares, amigos, colegas que dizem que não conseguem meditar?
A neurocientista residente do Mind and Life Institute, Wendy Hasenkamp,
explora os equívocos populares sobre meditação e as razões para se continuar
tentando.
Essa resposta me traz um misto de emoções com partes iguais de tristeza e frustração, junto com uma grande dose de motivação.
Tristeza
porque as pessoas tiveram experiências com a meditação em uma
perspectiva negativa e a associaram a uma sensação de ter fracassado.
Frustração porque essa associação sempre vem de um mau entendimento cultural sobre o que é a meditação (e o que deve se sentir quando pratica).
E motivação: para mudar essa percepção equivocada, para que aqueles que estiverem interessados possam experimentar os benefícios da prática da meditação.
Frustração porque essa associação sempre vem de um mau entendimento cultural sobre o que é a meditação (e o que deve se sentir quando pratica).
E motivação: para mudar essa percepção equivocada, para que aqueles que estiverem interessados possam experimentar os benefícios da prática da meditação.
Se você
fizer uma rápida pesquisa de imagens sobre meditação na internet, o que
você irá encontrar será uma representação bem popular: pessoas sentadas
com pernas cruzadas, olhos fechados, parecendo serenas e livres de
pensamentos, alguns com raios de luz saindo de suas cabeças. Se você
conversar sobre isso com alguém que medita regularmente descobrirá que
essa imagem está bem longe da realidade da meditação. Especialmente no
caso de iniciantes.
Externamente,
o corpo pode estar calmo (e isso pode levar algum tempo para ser
alcançado), mas internamente a mente sempre parece um emaranhado confuso
de pensamentos e emoções. Isso é normal. De fato, embora a meditação
signifique muitas coisas para muitas pessoas, na minha perspectiva, ela
não significa alcançar um estado mental extasiante e “vazio”. A cessação
do pensamento é possível (ao menos foi o que ouvi), mas para mim isso
seria como um efeito colateral. Na realidade, a meditação é um processo de investigação da sua própria mente e de mudança da forma como você se relaciona com seus pensamentos.
Na sociedade ocidental, o primeiro estilo de meditação usualmente ensinado, chamado “mindfulness”
ou prática da atenção focada, consiste em tentar manter sua atenção nas
sensações relacionadas à respiração. Apenas isso, em geral durante 10
minutos para começar. E isso é mais fácil de ser dito do que feito.
Experimente e veja por si mesmo. Quase imediatamente você irá se deparar
com muitos pensamentos saltando e tirando a sua atenção da respiração:
uma desavença recente, listas de compras, vontade de tomar café,
agitação e nervosismo por causa de um compromisso futuro… Isso é
natural. Surgem pensamentos e emoções associadas a eles. Em algum
momento você perceberá que a sua mente para de oscilar, que você se
separa daquele trem de pensamentos e distrações e volta para a
respiração. E então isso acontece novamente. E novamente. E novamente.
O esforço
na meditação em geral surge porque nossos objetivos estão mal
elaborados. O que frequentemente não é compreendido é o fato de que as
instruções para meditar não são de fato o objetivo da meditação. Em
outras palavras, embora estejamos procurando manter o foco na
respiração, o verdadeiro objetivo é conhecermos melhor as nossas
próprias mentes. Fazemos isso criando condições para os pensamentos
aflorarem e para podermos observá-los sem julgamento. Quando entendemos
que os pensamentos irão surgir inevitavelmente, e que são necessários
para que o processo tenha sentido, nós podemos relaxar e deixá-los
acontecer. Com a prática, começamos a entender que os pensamentos e
emoções que naturalmente surgem irão também naturalmente se dissolver.
Nós entendemos que não é sempre necessário segui-los e que eles não são
tão “reais” quanto parecem.
Ao longo
da última década, neurocientistas como eu têm se interessado cada vez
mais em estudar como a meditação afeta o cérebro e o corpo. O número de
estudos conduzidos por ano nesse novo campo da ciência contemplativa
está crescendo exponencialmente, com mais do que 200 estudos publicados
só no último ano.
E porque todo esse interesse?
As
pesquisas até o momento demonstraram vários benefícios da meditação,
desde o aumento da atenção e melhora do rendimento em exames, à redução
do estresse e melhora da imunidade. Como o campo de pesquisa continua a
florescer e os estudos clínicos têm se tornado cada vez mais rigorosos –
empregando metodologias padrão ouro com grupos controle e randomização –
nós estamos ganhando um entendimento muito mais refinado sobre a
aplicação das práticas contemplativas. Em outras palavras, que tipo de
prática funciona melhor para quais finalidades e para quais populações?
Os modelos cognitivos começaram a ser empregados para revelar como a
meditação funciona do ponto de vista psicológico, um importante passo
para formatar futuras pesquisas que irão nos dar um mapa mais claro da
mente. E indo além da psicologia, os pesquisadores estão procurando
tornar mais claro como mudanças cognitivas e neurais produzidas pela
meditação podem afetar os nossos corpos físicos, tornando-nos mais
saudáveis e resilientes em resposta ao estresse do mundo moderno.
Embora as pessoas
pareçam pensar que a habilidade de meditar é determinada pelo DNA – ou você é
capaz de meditar ou não – como a maior parte das habilidades, a capacidade
cognitiva para a meditação pode ser treinada.
Confirmando milhares de anos de evidências vindas de tradições contemplativas como o budismo, a ciência moderna está agora demonstrando isso de seu próprio jeito. Da mesma maneira que ir à academia e levantar pesos desenvolve os seus músculos, quando você repetidamente pratica uma habilidade mental – seja manter sua atenção em um determinado foco, fazer contas matemáticas ou aprender um idioma – você constrói circuitos em seu cérebro. O que a ciência está provando é que com intenção e prática diligente, você pode literalmente transformar o seu cérebro.
Esse
entendimento representa uma revolução para neurocientistas e psicólogos
que por décadas pensaram que o cérebro era “imutável” a partir do final
da adolescência. Muitos acreditavam que era ainda possível aprender
novas informações, mas em termos de personalidade e potencial inato, um
cérebro humano estava completamente estruturado por volta dos 20 anos de
idade. Claro, existirão sempre limitações devido às interações entre os
genes e o meio ambiente mas, para a maioria de nós, a janela de
possibilidades é muito mais ampla do que se acreditava anteriormente. E é
evidente que a meditação pode ter um papel importante na plasticidade
do cérebro.
Estudos
que examinaram a estrutura do cérebro demonstraram que a meditação está
associada ao aumento da densidade da massa cinzenta do cérebro, aumento
da espessura cortical e aumento da integridade de conexões entre regiões
cerebrais importantes para o controle cognitivo. Trabalhos recentes
mostram que quanto maior a quantidade de horas de meditação, maior será a
quantidade de dobras corticais da insula – uma área importante para
integração autônoma, emocional e cognitiva. Algumas das minhas próprias
pesquisas demonstraram que meditadores mais experientes apresentam maior
coerência da atividade cerebral nas redes ligadas à atenção, e também
entre regiões de controle da atenção e áreas envolvidas com divagações
mentais. Isso sugere uma habilidade para concentração e para “soltar”
pensamentos intrusos que pode ser treinada.
Deixando a
ciência um pouco de lado, o que a realidade da prática de meditação
significa em última análise é que é possível ensinar novos truques a um
cão velho. O processo leva tempo e uma boa dose de dedicação e esforço,
mas com prática você pode desenvolver uma nova forma de se relacionar
com seus pensamentos e emoções. E isso significa que é realmente
possível escolher como você pensa e, consequentemente, quem você é.
Mas não
tome por verdade o que estou dizendo. O próprio Buda disse a seus alunos
para não aceitarem algo simplesmente porque uma autoridade disse ser
verdade; em vez disso, teste você mesmo e veja se está de acordo com a
sua própria experiência. Eu aposto que se você colocar a meditação
seriamente à prova, você irá ver – e sentir – os benefícios por si
mesmo.
Wendy Hasenkamp, PhD, é diretora científica do Mind and Life Institute.
Como neurocientista e praticante contemplativa, se interessa em
compreender como a experiência subjetiva é representada no cérebro, e
como a mente e o cérebro podem ser transformados e desenvolvidos por
meio da experiência e da prática. Ela também tem contribuído para o
desenvolvimento do currículo, ensino e criação de livros didáticos de
neurociência para o Emory Tibet Science Initiative, que visa integrar a ciência no sistema de educação monástico tibetano na Índia.