quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O INTELECTUAL E AS RESPOSTAS ZEN




Certa vez Tao-kwang, um intelectual budista e estudioso do Vijñaptimara (idealismo absoluto), aproximou-se de um mestre Zen e perguntou:
- Com que atitude mental deve um indivíduo disciplinar-se para alcançar a Verdade?
Respondeu o mestre Zen:
- Não há nenhuma mente a ser disciplinada, nem qualquer verdade na qual nós devemos nos disciplinar.
Replicou o intelectual:
- Se não há nenhuma mente para ser controlada e nenhuma Verdade para ser ensinada, por que vos reunis todos os dias aos monges? Se não tenho língua, como será possível aconselhar a outrem a virem até mim?
- Eu não possuo nem uma polegada de espaço para dar, portanto onde posso conseguir uma reunião de monges? Eu não possuo língua, como posso aconselhar a outrem virem a mim?" respondeu o mestre.
O Intelectual então exclamou:
- Como podeis proferir uma tal mentira na minha cara!?!!
- Se não tenho língua,- retorquiu o mestre, - para aconselhar os outros como é possível pregar uma mentira?
Desesperado em confusão, disse Tao-kwang:
- NÃO POSSO SEGUIR VOSSO RACIOCÍNIO!!!
- Nem eu tampouco...- concluiu o mestre.


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O REAL IMAGINÁRIO




Um monge perguntou a Yen-kuan:
- Quem é realmente Vairochana Buddha?
- Por favor," replicou Yen-kuan, - passe-me aquele jarro d'água.
O monge esticou o braço, pegou o jarro e o colocou na frente do outro. Yen-kuan então disse:
- Pode recolocá-lo no lugar original, por favor?
O monge fez isso, sem comentários. Após um momento ele perguntou novamente a Yen-kuan:
- Quem é realmente Vairochana Buddha?
O mestre respondeu:
- A venerável divindade esteve aqui, mas já retornou ao seu lugar.



terça-feira, 27 de novembro de 2018

O CORAJOSO GENERAL



Havia um certo general chinês, que em batalha liderou seus homens com coragem e destemida força. Nada podia levá-lo a sentir medo, pois sua convicção era inabalável.
Certo dia ele estava em casa, tomando chá usando sua mais adorada relíquia, uma bela xícara de porcelana finamente decorada. 
Ele era profundamente apegado àquela peça, e a estimava muito. Quando fez o gesto de colocá-la na mesa sua mão vacilou e a xícara começou a cair ao chão. 
Terrificado com o temor de que a peça se quebrasse, o general lançou-se ao chão e no último momento conseguiu pegá-la.
 Ainda tenso, tremendo e suando frio, o general pensou: "Liderei homens em terríveis guerras e passei por momentos assustadores na vida sem jamais vacilar! Como é possível que eu sentisse tanto temor por causa de um pequeno objeto de porcelana?!?" 
Então o general percebeu plenamente a natureza de seu apego na vida. 
Neste momento, largou a xícara ao chão, voltou-se para uma vida contemplativa e abandonou a violência e a paixão ignorantes.


domingo, 25 de novembro de 2018

PERFEIÇÃO


Certo dia um Mestre falava para seus alunos sobre a natureza da Perfeição. Um dos discípulos, céptico quanto à possibilidade de poder realmente algo chegar à perfeição concretamente e incapaz de compreender o sentido do que o Mestre falava, observou próximo ao grupo um cesto de maçãs e disse ironicamente:
- Mestre, fiquei fascinado com sua explicação sobre a Perfeição. Poderia o senhor, para ilustrar o que acabou de dizer, me dar uma maçã perfeita?"
O Mestre calmamente olhou dentro da cesta, retirou uma maçã e entregou ao aluno. Pegando-a, este viu que a fruta estava com uma parte podre num dos lados. Olhou para o professor e disse arrogante:
- Essa é a perfeição de que fala? Esta maçã tem uma parte podre!
- Sim,- replicou o Mestre.
- Mas para teu nível de compreensão e discernimento, esta maçã podre é o máximo de maçã perfeita que poderás obter



sábado, 24 de novembro de 2018

SALVAR VIDAS



Havia um médico na antiga China, cujo trabalho era cuidar dos soldados nas batalhas.
 Entretanto a angústia de ver as atrocidades da guerra, e o fato de que sua função como médico parecia inútil, pois sempre que curava um soldado este voltava à guerra e eventualmente morria, fez com que ele pensasse: "Se o destino de todas as pessoas é morrer, por que devo eu buscar salvar vidas? Se minha medicina tem realmente valor, por que estes homens, após serem curados, voltam a buscar a morte?"
Sem conseguir encontrar uma resposta, o médico abandonou sua profissão e foi às montanhas procurar um sábio mestre Zen.
 Após meses de prática, ele finalmente compreendeu seu dilema. Afastou-se de seu retiro e voltou à cidade. Quando lá chegou, um amigo seu cumprimentou-o pela sua volta e disse:
- Que felicidade vê-lo de volta. Encontrou a resposta para sua dúvida?
- Descobri que todo este tempo fiz a pergunta errada. Não sou médico porque busco salvar vidas; sou médico porque a Vida merece ser perpetuada o mais possível. 

O médico não salva a vida de outrem; ele apenas ajuda a perpetuar a Vida Universal (o Tao) em cada ser que busca curar. Pois a vida de cada ser é uma só Vida, e cada vez que curo alguém, mantenho o Tao em perpétuo e maravilhoso movimento."


terça-feira, 20 de novembro de 2018

BUDDHA - ALÉM DAS PALAVRAS



Certa vez estava Buddha sentado sob uma árvore, com os seus discípulos reunidos à sua volta esperando que ele iniciasse seu discurso.
 Em determinado momento, Buddha calmamente inclinou-se e colheu uma flor. Levantou-a a altura de seu rosto e girou-a suavemente. 
Seus discípulos ficaram espantados e confusos, e murmuraram entre si questionando o sentido daquilo.
 Dentre eles, apenas Kashyapa entendeu o gesto, sorrindo.
Shakyamuni Buddha percebeu que Kashyapa tinha compreendido, e lhe disse:
- O método de Meditação que ensino é ver as coisas como elas são, nada rejeitar e tratar as coisas com alegria, vendo claramente sua face original. 
Esse Dharma misterioso transcende a linguagem e os princípios racionais.
 O pensamento lógico não pode ser usado para obter a Compreensão; apenas com a sensibilidade da não-mente alcança-se a Verdade. 
Vós compreendestes. Por isso, concedo-lhe a partir deste momento o espírito do Dhyana.



quinta-feira, 8 de novembro de 2018

OLHANDO DA MANEIRA CORRETA





Havia em uma aldeia uma velha chamada "mulher chorosa", pois todos os dias, chovendo ou fazendo sol, ela sempre estava chorando. Ela vendia bolinhos na rua, e um monge sempre passava por ela quando ia ao grande templo para os ritos. Um dia, curioso, ele lhe perguntou: "Sempre que passo, seja em belos dias ensolarados, seja em suaves dias chuvosos, vejo a senhora chorando. Por que isso acontece?"
"Tenho dois filhos," ela respondeu, "Um faz delicadas sandálias, o outro guarda-chuvas. Quando faz sol, penso que ninguém comprará os guarda-chuvas de meu filho, e ele e sua família vão passar necessidades. Quando chove, penso no meu filho que faz sandálias, e que ninguém vai comprá-las. Então ele também vai ter dificuldade para sustentar sua família."
O monge sorriu e disse: "Mas... a senhora deveria ver as coisas de forma correta. Veja: quando o sol brilha, seu filho que faz sandálias venderá muito, e isso é muito bom! Quando chove, seu filho que faz guarda-chuvas venderá muito, e isso é também muito bom!"
A velha olhou-o com alegria e exclamou: "Tem razão!"
Desde então a velha passa todos os dias, chovendo ou fazendo sol, sorrindo feliz.



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