Assim eu ouvi:
Estava o Abençoado - já
adentrado em anos - caminhando no Bosque de Upavartana, em companhia de seu
dileto discípulo Ananda, quando subitamente sentiu-se fatigado. Deitou-se um
pouco para descansar, com Ananda a seu lado. Após um tempo, sentiu-se melhor e
levantou-se.
Um pouco mais adiante na
senda, o Venerável voltou a parar, fatigado. Logo após algum tempo em descanso,
levantou-se. Então, pela terceira vez, sentiu-se muito cansado, e Ananda,
aflito, o ajudou a deitar-se à sombra de uma árvore. O Abençoado então disse a
seu discípulo:
- Busque meus discípulos
e reuna-os à minha volta, pois o Tathagata em breve terá sua personalidade
extinta.
Quando os discípulos se
assentaram, disse o Buddha muitas coisas sábias, e então disse a Ananda, mas
falava para todo o Sangha:
- Preguei o Dharma sem
limites entre o oculto e o revelado, pois no tocante à Verdade o Tathagata não
tem nada que se assemelhe ao punho cerrado de um instrutor que oculta alguma
coisa.
Já sou velho, Ananda,
tenho oitenta anos e termino meus caminhos e meus dias; assim como uma velha
carroça que vagamente roda na estrada, assim meu corpo se sustenta com muita
fragilidade. Meu corpo só está bem quando mergulho no equilíbrio da meditação.
Por isso, monges,
permanecei na Senda, e assim deveis vos guiar pelos Preceitos.
Que o Dharma e as regras
do Sangha sejam vosso mestre quando eu partir; e que o Sangha saiba derrogar,
se convier, os preceitos de pouca importância. Se conseguirdes guardar bem os
Preceitos, disso resultará a Boa Lei.
Se não conseguirdes
guardar de forma correta o sentido dos Preceitos, então seus pretensos atos de
benevolência serão destituídos de méritos reais.
Assim, pois, Ananda, sede vossas próprias
lâmpadas. Apoiai-vos em vós mesmos e não em nenhum sustentáculo externo.
Sustentai-vos apenas na Verdade. Que ela seja vossa bandeira e refúgio.
Dirigindo-se à
assembléia, perguntou:
- Se ainda entre vós
alguém abriga dúvidas, que a exponha livremente, pois meu tempo de responder a
todas as dúvidas está encurtando.
Ananda disse, após um
período:
- Certamente, dentre os
que aqui se encontram não há ninguém que abrigue dúvidas ou receios acerca do
Buddha, do Dharma e da Senda.
Então o Abençoado
proferiu suas últimas palavras:
- Decadência é inerente
a todas as coisas existentes, porém o Dharma perdurará eternamente. Busquem com
afinco por sua libertação.
Neste momento o Buddha
entrou em meditação, e expirou tranqüilamente.