terça-feira, 24 de março de 2015

A CORRIDA





Todos os corredores já estavam prontos para a partida. Só esperavam com os músculos tensos para o apito inicial. Cada um deles pensava em ganhar a corrida ou, se não fosse possível, ficar entre os primeiros. Os pais observavam e animavam os filhos, e cada filho esperava poder mostrar aos pais que ele seria o ganhador.

Soou por fim o apito e os corredores largaram com o coração agitado e as esperanças ardendo. Ganhar e ser herói naquela manhã era o desejo de cada jovem.
Um menino destacou-se do pelotão e tomou a dianteira. Saber que seu pai estava ali, observando-o, punha asas em seus pés. Ganharia e seu pai ficaria orgulhoso dele.



Não viu uma raiz levantada, tropeçou, e o menino que era o primeiro na corrida caiu de bruços em meio às risadas da multidão. Com ele, caíram também suas esperanças. Já não seria o ganhador. Triste e envergonhado, só pensava em desaparecer.

Então viu o rosto carinhoso e radiante do pai animando-o a continuar. Se ele ainda acreditava que ele pudesse ganhar, se superaria e faria um esforço extraordinário e conseguiria a vitória.
Estava já recuperando alguns postos,  podia ver os meninos da frente, mas sua mente correu com mais velocidade do que as pernas e ele resvalou e voltou a cair. Desejou ter-se retirado antes, quando caiu pela primeira vez. Agora, a humilhação e a vergonha eram maiores. Perdera a corrida e estava perdido como corredor. Mas entre a multidão que ria, procurou e encontrou o rosto do pai e seu olhar penetrante lhe dizia com esperança e com carinho: “Concentre-se e ganhe a corrida”.


O menino levantou-se de um salto e tentou de novo. Os primeiros corredores tinham sobre ele uma vantagem de mais de trinta metros.  Com um esforço inaudito, conseguiu encurtar a distância, mas, uma vez mais, escorregou e caiu definitivamente derrotado no chão.

Não tinha sentido continuar tentando ganhar a corrida. Uma lágrima de raiva e irritação rolou de seus olhos. Ele se retiraria e enfrentaria dolorosamente a desilusão do pai e as vaias da multidão.
Então escutou a voz decidida de seu pai: “Levante-se e tome o seu lugar: Você não pode nem deve retirar-se. Levante-se e ganhe a corrida. Você ainda não perdeu. Para ganhar, você só precisa levantar-se cada vez que cair”.


O menino levantou-se e começou a correr com todas as suas forças. Tinha os olhos embargados e em seu coração repicava um novo ânimo. Sabia que não poderia ganhar; nem mesmo chegaria entre os primeiros, mas continuaria até o final mesmo que caísse de novo. Não se retiraria.

O ganhador foi aclamado quando cruzou a linha de chegada. A cabeça erguida, orgulhoso, feliz; sem cair, sem percalços, sem desventuras. Triunfante.

E quando o jovem que caíra cruzou a linha de chegada em último lugar, foi o mais aclamado pela multidão por não render-se e terminar a corrida. Quase parecia que fora ele quem ganhara a corrida. Esperavam-no os braços satisfeitos do pai, que o receberam como a um campeão.
_ Não me saí muito bem _ disse o jovem com tristeza.
_ Para mim, você ganhou _ disse-lhe o pai.
_Você se levantou sempre que caiu e continuou a correr sem render-se.



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