Na Grécia antiga as mulheres sabiam que
estavam sob o domínio de uma deusa a quem veneravam prestando homenagens e
oferendas em seus templos, invocando seu auxílio. Estas mesmas deusas, ainda
fazem parte da vida da mulher, mas habitam o mundo do inconsciente coletivo
como arquétipos (imagens primordiais).
Segundo, Carl Gustav Jung, o inconsciente
coletivo é a instância psíquica mais profunda que armazena experiências que não
são nem pessoais e nem individuais, mas imagens primordiais ou arquetípicas e
também os instintos, que não podem ser acessadas quando necessário, entretanto,
manifestam-se em sonhos, mitos e fantasias de maneira simbólica. Por isso, no
íntimo de toda mulher encontrar-se-ão as deusas. Todavia, em cada mulher,
estará uma ou mais deusas ativadas e outras não, e mesmo a ativação terá suas
diferenças individuais.
No início dos tempos, tinha-se o Matriarcado.
Período marcado pelo predomínio do Arquétipo da Grande Mãe e, conseqüentemente,
o feminino tinha seu lugar de destaque. Em seguida, houve uma grande revolução
e as divindades masculinas passaram a predominar, iniciando-se o Patriarcado.
Com o advento do cristianismo, entrou-se na era do Patriarcado de modo
definitivo. Neste período, os valores masculinos passaram a preponderar e,
progressivamente, o feminino foi rejeitado e execrado.
Os valores associados ao
feminino, ligados ao princípio de Eros, que são a receptividade, a passividade,
a disciplina e a subjetividade, que aparecem como o se relacionar, criar e
cuidar, foram expurgados. E, valores associados ao masculino, ao princípio do
Logos, tais como discriminar, julgar, impor regras e limites de maneira rígida,
e agir e relacionar-se impessoalmente foram supervalorizados.
No momento atual observa-se que as próprias
mulheres aderiram ao modelo do Patriarcado, passando a supervalorizar o
princípio do Logos. Então, decidiram ser mulheres que pensam demais,
racionalizam demais, agem demais, competem demais, julgam demais, discriminam
demais e, se relacionam menos, criam menos, cuidam menos. As próprias mulheres
passaram a ridicularizar as características inerentes do arquétipo do feminino.
Assim, as mulheres passaram a viver com padrões de comportamento
estereotipados, isto é, mediante ditames sócio-culturais. E, com isso, as Deusas foram renegadas ao
porão da vida. O grande feminino foi caçado como uma bruxa, queimado e suas
cinzas foram sopradas ao vento. Mas, chegou a hora de, como a grande ave Fênix,
ressurgir das cinzas.
Por isso estamos vendo o ressurgimento dos
movimentos em pró da bruxaria que não tem relação alguma com a
demonologia ou algo assim. Mas são mulheres e até mesmo alguns homens, se
propondo a permitir o ressurgimento do Grande Feminino, da Grande Mãe, da
Natureza. Mesmo no catolicismo, o chamado Movimento da Renovação Carismática
que, também, tem enaltecido o feminino, orando à Virgem Maria.
Mas, muitos momentos críticos, momentos de
renovação e transformação, na vida da mulher, invocam, de alguma maneira, os
poderes das Deusas. Segundo Bolen: "A mulher que decide continuar seus
estudos além da escola secundária favorece o desenvolvimento adicional das
qualidades de Atenas. Estudar, organizar informações, fazer provas e escrever
teses, tudo requer a inclinação à lógica, própria de Atenas. A mulher que
escolhe ter um bebê convida a maternal Deméter a ser uma presença mais forte. E
registrar uma viagem pela selva, com mochila às costas, oferece mais expressão
a Ártemis."
Em sendo assim, conhecer as deusas e seus
atributos proporciona às mulheres o autoconhecimento e também, o que está por
trás de seus relacionamentos de qualquer natureza, mas principalmente no
tocante aos relacionamentos afetivos. Conhecer as deusas, portanto, favorece
que a mulher, além de seu autoconhecimento, compreenda seus relacionamentos com
homens e mulheres, com seus pais e filhos.
As deusas sempre foram solicitadas para
auxiliar em alguma função:
Atenas auxiliava na reflexão sobre uma
situação, é a deusa da sabedoria; Perséfone, a se estar disponível e receptiva;
Hera, no desempenho dos compromissos e para ter autoconfiança; Deméter, no
desenvolvimento da paciência, generosidade e tolerância; Ártemis, na constância
do objetivo; Afrodite, na capacidade para o amor, na relação com o próprio corpo
e Héstia, para manutenção da paz e serenidade.
Bolen, no livro "As Deusas e a
Mulher", inova classificando as deusas em: virgens, vulneráveis e
alquímicas. Segue um breve resumo das características dessa classificação e
deusas.
As
deusas virgens
A deusa da caça e da lua, Ártemis; a da
sabedoria e das artes, Atenas, e a da lareira, Héstia são consideradas deusas
virgens, não por serem intocadas sexualmente, mas por serem independentes e
ativas. Portanto, representam estas características nas mulheres. Virgem,
significa "não pertencente ao homem", ou seja, não há dependência do
homem e nem de sua aprovação. Por isso, não faz nada com a única finalidade de
agradar a um homem, faz porque quer, porque sente que assim deve fazer; ela
segue sua própria escala de valores que não foram afetados pela coletividade.
As mulheres com aspectos das deusas virgens são aquelas que sacrificam os
relacionamentos com os homens para relacionarem-se mais profundamente consigo
próprias. Mas cada uma das Deusas virgens tem sua peculiaridade.
Ártemis apartou-se do convívio com os homens,
e hoje podemos observá-la nas feministas convictas e nas mulheres extremamente
rígidas e individualistas. Já, Atenas, não se apartou e conviveu com os homens
como uma igual; é a mulher atual que compete, lado a lado, profissionalmente,
com os homens. E, Héstia, é a que se retraiu e ficou sozinha. É a mulher que
abandona a sua feminilidade assim evitando atrair o interesse masculino e se
recolhe em tarefas diárias.
As
mulheres Ártemis
São aquelas do estilo "selfmade",
que sabem cuidar de si mesmas, autoconfiantes e independentes. Apresentam aguda
concentração e direção no que fazem, não se importando ou se incomodando se vão
agradar ou não a alguém. São extremamente objetivas. Gostam de estar no meio de
um grupo de mulheres, é o arquétipo da irmã, por isso, construindo
"irmandades". Apreciam a natureza e por isso podem se dedicar ao
camping, em explorar cavernas, etc., como as atividades esportivas e
competitivas.
No trabalho são objetivas, competitivas e não
temem oposição. São do tipo que desenvolve amizade profunda com outras
mulheres, tendo, por isso, uma ou mais, melhores amigas, com as quais
compartilham seus interesses.
Sua sexualidade pode ser não desenvolvida ou
não expressa. As relações são algo secundário e o sexo pode ser visto como uma
atividade esportiva e competitiva.
Preferem homens bem dotados intelectualmente
com os quais possa compartilhar idéias e ideais. Quando se casam, o
relacionamento é feito mediante a igualdade e pouco sexualizado, ficando mais
no campo fraternal. Podem se casar, também, com um homem que venha a
sustentá-las. Se não conseguirem manter o aspecto competitivo fora do
relacionamento, e estiverem se relacionando com um homem forte, fatalmente,
acabarão por destruí-lo ou ao relacionamento.
Como mulheres desse tipo não se envolvem
emocionalmente, são frias e distantes no que tange o sentimento alheio Tendem a
ferir muito os outros pois, desprezam a vulnerabilidade e o desejo de
envolvimento, são ferinas e cruéis, altamente destrutivas frente às oposições.
Julgam em termos de "tudo ou nada" e não perdoam.
Para abrandar esta deusa, as mulheres devem
atentar para a passagem do tempo, isto é, que a juventude não é eterna e devem
olhar à frente e pensar bem no caminho que escolherão; devem desenvolver a
consciência da importância do amor e o instinto gerador e criativo, assim,
poderão diminuir sua unilateralidade.
As
mulheres Atenas
Atenas era denominada de "filha do
pai", por ter nascido da cabeça do pai (Zeus) e não ter conhecido sua mãe
(Métis). Ela nasceu "pronta", adulta.
As mulheres tipo Atenas são lógicas,
estrategistas, racionais, práticas, desinibidas, seguras, não se deixam levar
por emoções e sentimentos e são fisicamente ativas. Estão sempre no meio-termo,
visto que os extremos são caracterizados por fortes emoções. Suas defesas são
caracterizadas pelo extremo intelectualismo. Não se apartam dos homens; muito
pelo contrário, sentem-se bem entre eles pois compartilham dos mesmos valores
patriarcais (tradição, o poder masculino, as normas vigentes, conservadorismo).
Escolhem homens poderosos e bem sucedidos;
repudiam os mal-sucedidos, oprimidos ou rebeldes. Não esperam por um príncipe
que venha salvá-las.
Não possuem amigas íntimas, em função de se
darem melhor com os valores masculinos do que com os femininos; exasperam-se
com as outras mulheres que se queixam, principalmente, contra os homens.
Pessoas sensíveis são tidas como idiotas.
Gostam de saber como as coisas funcionam, de
que são feitas e para que servem. O desafio intelectual é uma diversão.
Tendem a desvalorizar suas mães, tratá-las
como incompetentes. E, como mães, não são maternais, geralmente, transferem os
cuidados a outrem. Tendem a valorizar os filhos e a manterem distância emocional
das filhas que não se mostrem independente como elas.
Sexualmente, quando decidem ter uma vida
sexual, aprendem a "arte" e desempenham com muita habilidade.
O casamento é o tipo parceria; elas ajudam os
maridos a crescerem, a alcançarem sucesso. Têm pouco ciúme sexual pois, na
verdade, seu casamento pode ser visto como um bom acordo comercial.
A mulher Atenas é insensível aos sentimentos
dos outros, é fria e calculista, denotando grande poder para intimidar os
outros.
Quando se relaciona ou conversa busca as
falhas do interlocutor. Por isso, sempre consegue manter os outros a uma
distância razoável.
Para minimizar os efeitos negativos dessa
deusa, as mulheres devem aprender a ouvir o que os outros dizem sem julgar suas
emoções e sentimentos. Devem, portanto aprender a valorizar estes aspectos.
Também, podem desenvolver trabalhos artesanais (costura, bordado, tricô,
pintura, modelagem). Devem aprender a descobrir e vivenciar a criança interior,
e, por fim, re-descobrir a mãe, aceitando-a sem depreciá-la.
Héstia
A deusa Héstia é consagrada à lareira. Seu
símbolo era um círculo e os rituais a ela consagrados usavam o fogo. Era
relacionada ao deus Hermes, o mensageiro, astuto, protetor e guia dos
viajantes, além de protetor dos ladrões. Héstia protegia dentro do lar e Hermes
a entrada.
Diferente das outras duas deusas virgens que
têm a consciência enfocada para aspectos externos, Héstia tem a consciência
enfocada para seu próprio interior, portanto, mais subjetiva. Como as outras
duas deusas, por estar com a percepção enfocada, isto é, dirigida apenas para
seu foco de interesse, o restante, sejam pessoas ou coisas, são meros detalhes
sem importância.
Este é o arquétipo da mulher que valoriza o
lar, que aprecia tomar conta de casa. Gosta de fazer as tarefas domésticas para
agradar a si mesma. Também é comum àquelas que se dedicam a uma vida religiosa
ou à meditação. Ela é quieta, reservada, calma, introvertida e aprecia a
solidão (muitas vezes, sente-se alienada do mundo que a cerca).
Ela representa a sabedoria que transcende os
conflitos, um motivo centralizador interior. No trabalho, não é competitiva,
sendo que trabalhar não é seu forte. Falta-lhe ambição, desejo de poder e de
reconhecimento. Quando desempenha uma atividade profissional o faz com esmero
mas de modo nada apelativo - apenas faz o que tem que fazer.
Tem poucas amizades pois não gosta de
conversas triviais. A sexualidade não é muito importante. Será uma boa esposa e
poderá ser uma boa mãe, cuidando dos filhos com amor e atenção, mas não é o
tipo de mãe que estimula o franco desenvolvimento de potenciais. Expressa seus
sentimentos e interesses de maneira indireta, através de gestos amáveis.
Para atenuar os efeitos dessa deusa a mulher
deverá aprender a expressar de maneira mais efetiva seus sentimentos e
necessidades, desenvolver uma persona mais sociável para poder interagir
socialmente, desenvolver assertividade ou através de outras deusas ou de seu
animus (o homem que habita o interior de cada mulher).
As
deusas vulneráveis
As três deusas vulneráveis são: Hera, deusa
do casamento e que representa a esposa, Deméter, do cereal e que representa a
mãe e Perséfone, do inferno que representa a filha.
São denominadas de vulneráveis, por Bolen,
pois foram vitimadas de alguma forma por deuses ou humanos. São deusas
orientadas para o relacionamento, sendo motivadas pelas recompensas que um
relacionamento traz.
Sua percepção e consciência são difusas,
percebendo tudo ao seu redor. Portanto, estão atentas aos estímulos sensoriais
que o meio oferece. São capazes de perceber o tom emocional de uma conversa ou
idéia; são sensíveis e empáticas com os outros.
Hera
Hera foi a esposa ciumenta de Zeus; muito
vingativa com as deusas, com as mortais, ou com os filhos que Zeus teve fora do
casamento, mas jamais com o próprio Zeus.
As mulheres tipo Hera são aquelas que almejam
e sonham com o casamento; não lhes bastam relações informais. Todo o ritual da
cerimônia de casamento é imprescindível. São fiéis e leais e capazes de suportar
dificuldades com o marido. São dependentes do marido e por isso tendem a
transferir a culpa deles para outrem. E quando traídas ou sofrem uma perda, a
reação é de pura raiva vingativa. Para elas, a outra, é a vagabunda, a
sem-vergonha, a desqualificada, não importando se esta outra foi vítima de
sedução.
Algumas mulheres do tipo Hera, cansadas de
viverem o relacionamento conturbado dos pais fogem através do casamento, que
foi extremamente idealizado.
Os estudos e o trabalho são algo secundário
para estas mulheres, exceto que isto possa repercutir positivamente para seu
cônjuge.
Costumam ter poucas amigas e se afastam assim
que conseguem um relacionamento estável.
Terá amizades pertinentes ao casal, mas nada
íntimo, viverão apenas para o social, mas desprezarão as pessoas,
principalmente, as mulheres solteiras ou separadas que são vistas ou como
perigosas ao seu casamento ou apenas não são nada pois não possuem um marido.
As mulheres tipo Hera tendem a julgar os outros muito mais por sua aparência do
que por outros motivos.
Elas vivem exclusivamente para o marido em
detrimento a todo o resto. Escolhem homens competentes, de sucesso, que possam
preenchê-las, completá-las.
Via de regra, o sexo é vivido apenas com o
casamento ou com o possível marido e, freqüentemente, é o tipo de sexualidade
passiva. O casamento é o fato mais importante para sua vida. A rotina diária, o
fazer passeios e viagens juntos são suas metas após o grande dia. Muitas vezes,
o homem que escolhe casar com uma mulher tipo Hera, é aquele que deseja ter uma
mulher para apresentar socialmente, é apenas uma fachada.
Por maior que seja sua insatisfação no
casamento, a mulher tipo Hera, dificilmente pedirá o divórcio. E quando se
divorcia, tem muita dificuldade em aceitar: espera pelo arrependimento e volta
do parceiro, perturba a nova companheira ou filhos deste, gerados do novo
relacionamento.
Este tipo de mulher terá filhos, mas não por
desejos maternais e sim porque ter filhos faz parte dos casamentos
tradicionais. Mas os filhos, ficarão sempre em segundo plano. É aquele tipo de
mãe que não intervém entre os filhos e o marido, mas se o fizer, estará ao lado
do marido, independente de ele estar certo ou errado. Por isso, não sofrem a
síndrome do "ninho vazio" (saída dos filhos) mas, a separação ou a
viuvez são seus maiores martírios, muitas vezes, insuperáveis.
Algumas mulheres precisam aprender a cultivar
Hera para que possam desfrutar de relacionamentos mais íntegros e
significativos, principalmente aquelas que já se consolidaram na profissão e/ou
já tiveram muitos romances.
Elas precisarão aprender conscientemente a
cultivar uma ligação ou a predisposição a uma. Algumas terão que desistir da
imagem de um homem idealizado e aceitar o homem possível.
Para diminuir o poder dessa deusa é
conveniente que a mulher resistisse a se casar até estar certa do que quer e
estar mais madura para perceber que pode fazer uma escolha errada por projetar
características irreais num homem. Deve cultivar outros interesses, controlar
sua fúria interior transformando essa energia numa atividade criativa,
artística ou mental (artesã, trabalhar com argila, pintura ou escrita).
Precisam aprender a conviver com os dados de
realidade e partir "para outra", se este for o caso; terá que se
desvincular do relacionamento anterior para que possa confiar novamente num
relacionamento. Também poderá aprender a desvincular-se de um mau casamento
simbolicamente, ou seja, desistir da aceitação incondicional do vazio que essa
relação lhe oferece e desistir apenas de viver o papel de esposa, clamando o
auxílio de outras deusas.
Deméter
É a deusa do cereal e, também, venerada como
uma deusa mãe. Ela foi a mãe de Perséfone, raptada por Hades e levada aos
infernos. Deméter não descansou até encontrar e ter a filha de volta. Ela é a
responsável pelos chamados Mistérios de Elêusis, os mais sagrados e importantes
rituais religiosos da Grécia antiga.
Deméter é, portanto, um arquétipo materno,
representando o instinto maternal no seu todo (gestação e nutrição) tanto
física como psicológica e espiritual dos outros. As mulheres com essa deusa
proeminente desejam, mais do que tudo, ser mães. Mas não é apenas no sentido
biológico; elas cuidam e nutrem todas as formas de relacionamento, quer
afetivos, sociais ou profissionais. Elas são nutridoras, prestativas e doadoras
em todos os relacionamentos. Elas são nutridoras e cuidadosas, também, mesmo
dos filhos adultos e que já deixaram o lar. Não sabem dizer não a ninguém.
Algumas mulheres que engravidam
"acidentalmente", possuem essa deusa dominando no seu mundo
inconsciente.
As mulheres Deméter são as mais passíveis de
sofrerem a síndrome do "ninho vazio" e intensa solidão, levando-as a
fortes crises depressivas, pois toda a realização está no desempenho do papel
de mãe. Elas não se desenvolveram, não cresceram enquanto viviam para serem
mães. Outra característica é seu lado de não permitir que os filhos
"cresçam". Elas dificilmente os incentivam a tornarem-se confiantes,
seguros e com autonomia. São aquelas que mostram, constantemente, o quanto são
necessárias, pois seus filhos "nunca sabem o suficiente". Mas elas
jamais estão conscientes de suas negatividades (fomentar a dependência e a
inoperância, jamais dizer não, gerar sentimentos de culpa e remorso), tudo o
que fazem é para o bem e ficam extremamente magoadas quando os filhos as
censuram ou desconversam.
Para elas, essa atitude é de rejeição
emocional. Também, costumam achar que coisas ruins vão acontecer aos seus
filhos, provavelmente, em função do temor da perda da afetividade.
Os
filhos das mulheres Deméter são aqueles que permanecem como filhinhos ou
filhinhas da mamãe, que encontrarão dificuldades para se casarem e, se o
fizerem, os laços com a família de origem serão mais fortes que o próprio
casamento ou relação.
Via de regra, as mulheres Deméter casam-se
cedo, e se não o fazem, cursam faculdades para profissões de cunho assistencial
ou educacional., tradicionalmente carreiras femininas.
No trabalho, terão dificuldades para limitar
ou corrigir um funcionário incompetente pois se sentirão culpadas por
machucá-los ou sentirão pena; portanto, são extremamente condescendentes.
São amistosas e não competem com outras
mulheres seja por realizações ou por um homem, mas podem competir pelas
"proezas dos filhos". Elas não escolhem o homem com quem casar,
acabam sendo escolhidas por homens que são acolhidos como "meninos"
(normalmente, são homens imaturos, egocentrados ou até cafajestes e
sociopatas).
A sexualidade não é muito importante, tem
mais a função reprodutiva. As mulheres Deméter preferem ser acariciadas e
abraçadas a fazer amor. Para muitas delas, amamentar o bebê lhes proporciona
mais prazer sexual do que estar com seu parceiro.
As mulheres Deméter devem aprender a dizer
não às pessoas, situações e a si mesma. Devem aprender a escolher quando e com
quem ter um filho. Devem aprender a expressar sua raiva que, normalmente, é
somatizada em fadiga, enxaquecas, dores nas costas e auto-sabotagens de toda
espécie (prazos, promessas, atrasos).
Devem
aprender a renunciarem a possessividade e apego. Devem aprender a enfocar
outros interesses, permeando o surgimento de outras deusas.
Perséfone
Perséfone foi adorada como deusa ou rainha do
Inferno, ou como Core (jovem garota). Foi raptada por Hades, e com a ajuda de
Hermes (deus mensageiro) saiu do Inferno e pode reencontrar a mãe, passando a
viver com ela em dois terços do ano e um terço viveria com Hades.
As mulheres do tipo Perséfone são de pouco
agir, são conduzidas pelos outros, não sabem o que querem ou para onde vão. Se
Atenas é a filha do pai, Perséfone é a filha da mãe. Fazem de tudo para agradar
a mãe, são as boas meninas obedientes, cautelosas, recatadas, passivas e
dependentes. Possuem fortes tendências para a mentira e manipulação (para
evitar o confronto ou a raiva do outro), como também para o narcisismo.
Elas
fazem de tudo para se adaptarem, posteriormente, aos desejos de um homem, são
uma tela em branco que o homem pinta como quer. Os homens que as escolhem são
inexperientes, malandros e os que não se sentem confortáveis com mulheres
maduras.
Parecem não ter uma personalidade própria.
São do tipo mulher-criança combinando forte poder de atratividade e ingenuidade.
Muitas vezes, sua sexualidade está adormecida, há falta de paixão, de emoção,
parecem esperar pelo "príncipe encantado" que virá acordá-las, ou são
sexualmente não responsivas que se sentem estupradas ou submissas quando fazem
amor.
O casamento pode livrá-las do jugo da mãe ou
deixá-las num conflito entre a mãe e o marido, repetindo-se o mito. Não se
sentirão como autênticas mães ao terem os filhos, pois sempre haverá a
intromissão da mãe possessiva.
As mulheres Perséfone são joviais e até mesmo
infantis. Muitas vezes são incapazes de fazerem as coisas mais simples, como
comprar roupas, sozinhas, e, preferem a opinião e supervisão da mãe, que também
escolhe amigos, o que fazer, pelo que se interessar, ler ou ouvir.
Enquanto profissionais, não são dedicadas;
mudam constantemente de emprego pois vivem procurando algo que lhes agrade. Mas
se elas estiverem identificadas com o aspecto da rainha do Inferno, serão muito
competentes, principalmente no campo psicológico ou espiritual por saberem
sintonizar-se com o mundo do inconsciente.
As mulheres Perséfone tendem a sofrer de
depressão, principalmente próximas da meia-idade, pois não aceitam o
envelhecimento, a perda da jovialidade, nem a dura realidade que terão que
abandonar alguns sonhos há muito acalentados. Deprimem-se, também, por não
expressarem a raiva, que quando reprimida se transforma em depressão. Mas sua
depressão é aquela que se caracteriza por forte isolamento do mundo que a
cerca, voltando-se pra o mundo interior. Entretanto, podem caminhar para uma
psicose por se afastarem tanto da realidade.
As mulheres Perséfone devem aprender a
estabelecer compromissos e a viver em conformidade com estes. Devem lutar
contra a indecisão, a passividade e a inércia.
Devem tomar a decisão por se casar, aprender
a dizer sim, pois senão o casamento será visto como uma prisão que as levará ao
divorcio. Devem aprender a responder com a sexualidade genuína, entregando-se
aos seus sentimentos e emoções de maneira confiante.
A Deusa
Alquímica
Bolen denominou Afrodite de deusa alquímica
por seu grande poder de transformação pois, simboliza o poder transformativo e
criativo do amor. Ela, também, representa a composição harmoniosa entre os
aspectos das deusas virgens e das vulneráveis. Não é vulnerável pois jamais
sofreu, seus relacionamentos eram correspondidos, e, não é virgem pois
valorizava as experiências emocionais e os relacionamentos, mas não como
permanentes e duradouros.
Ela
impregna de beleza e amor os relacionamentos, não apenas os sexuais. Ela
permite a empatia entre as pessoas. Ela visa seus próprios objetivos e
interesses (consciência enfocada) sem abrir mão da receptividade ao outro. Ela
pede pela conexão com o outro pois, sem essa conexão nada se cria e, portanto,
não há transformação.
Afrodite era capaz de acreditar no sonho de
seus homens. Que o sonho era possível. Isto fazia com que eles se sentissem,
realmente, importantes e especiais.
Acreditar no sonho de alguém gera expectativas
positivas no comportamento do outro, desperta o outro para o seu melhor. É uma
atitude receptiva e doadora ao mesmo tempo, recebe-se o sonho e se encoraja o
outro a buscar a realização. Isso confere segurança e dinamismo ao outro..
Afrodite
Afrodite é a deusa do amor e da beleza. Teve
vários relacionamentos eróticos com deuses e com mortais. Mas também ajudou a
muitos quando invocavam seus poderes.
Enquanto arquétipo rege o prazer do amor, da
beleza, do sexo e da sensualidade. Nas culturas patriarcais esses valores são
desvalorizados, a mulher pode ser vulgarizada por expressá-los. Também, rege as
forças criativas que tem por fases: atração, união, fertilização, incubação e
nova criação.
Para se cultivar Afrodite temos que nos
envolver em atividades sensoriais ou sensuais. Temos que nos afastar de
atitudes culposas ou críticas, pois estas nos afastam da possibilidade de
desfrutar o prazer, o lazer e qualquer outra atividade considerada não
produtiva.
As
mulheres Afrodite
São atraentes, não, necessariamente, belas.
Possuem carisma e por isso não precisam vestir-se ou porta-se de maneira
chamativa. É algo interior, que vem de dentro para fora. Elas possuem
vivacidade, espontaneidade e sensualidade natural.
Desde bem jovem, a mulher Afrodite, manifesta
seu poder. E, se seus pais são esclarecidos e se não possuir uma mãe que queira
competir, seguirá, naturalmente, sua tendência sem sentir-se culpada.
Entretanto, poderá enfrentar a má reputação e rebaixamento da auto-estima caso
deixe-se levar por seus impulsos sexuais. Uma gravidez indesejada é possível.
Estas mulheres não enfocam tanto os estudos
ou carreira. Mas, certamente, se estiverem envolvidas emocionalmente com o que
fazem cultivarão o interesse.
Dificilmente, se esforçam para se sair bem.
Só se dão bem se estiverem envolvidas e puderem usar muita criatividade. Elas
ou estão num trabalho que detestam ou num que amam demais.
As mulheres Afrodite costumam relacionar-se
com homens errados, pois escolhem homens criativos, complicados, mal-humorados
ou emotivos (com relação amor/ódio pelas mulheres, intolerantes a frustração,
"supermachos", agressivos, imaturos ou dissimulados). Mas, também,
para essas mulheres, é muito difícil manter um casamento monogâmico.
Normalmente, são boas mães, sempre incentivando os filhos com seu entusiasmo.
As outras mulheres não apreciam as Afrodite,
por sua conduta. Mas elas estarão cercadas de pessoas que admiram sua
espontaneidade
A meia-idade é uma fase difícil, pois é nesta
época que costumam perceber o quão tolas e erradas foram suas escolhas no que
tange aos relacionamentos com os homens. Mas tanto na meia-idade como na
velhice tendem a manter sua maneira de ver a vida, com beleza e paixão.
As mulheres do tipo Afrodite encontram
dificuldades, principalmente, se este arquétipo for o dominante. Elas gostam de
exercer seu poder de atratividade sobre os homens e se não estiver muito
consciente, agirá conforme seus desejos e impulsos sem avaliar as
conseqüências. Por isso, precisarão se conscientizar de Afrodite para minimizar
alguns desconfortos. Terão que exercer o controle algumas vezes sobre seus
impulsos; terão que aprender a fazer escolhas sensatas. Para isso, devem
aprender que não é o tempo presente, o aqui e agora, que importa, mas também o
futuro, pois nossas atitudes de hoje refletem no futuro. Em função disso, fazem
extravagâncias em gastos, seus planos apaixonados se transformam em desinteresse
antes mesmo de pô-los em prática.
As mulheres Afrodite, se apaixonam com
extrema facilidade, e é sempre para valer. E, com isso, acabam por machucar
muitos que acreditam em seu afeto pois, acabam sentindo-se usados. Para sair
dessa roda-viva, elas precisam se apaixonar por alguém real, com imperfeições
humanas. Devem deixar de ver em todo homem, um deus.
O arquétipo de Afrodite pode deixar uma
mulher "doente de amor", são aqueles amores doentios em que pelo
objeto amado vale tudo: vale ser mal tratada por ele, agredida, tiranizada,
menosprezada. Ou seja, são vivenciados amores destrutivos e, abandoná-los não é
um empreendimento fácil para elas. Outra forma de amor doentio é aquele em que
a mulher se apaixona por um homem que definitivamente não a quer, mas ela,
obsessivamente, vai atrás dele.
As mulheres Afrodite devem reconhecer sua
sensualidade e forte sexualidade (por serem e sentirem-se diferentes das outras
mulheres) para se livrarem de sentimentos de culpa ou remorso.
Também, devem reforçar outras deusas para que
possam viver com maior responsabilidade e compromisso. Devem aprender a fazer
escolhas e prever conseqüências das mesmas.
Devem realizar as quatro tarefas que Afrodite
deu a Psiquê para que ela pudesse reaver Eros, a saber.
1.
Separar
as sementes: desembaraçar-se dos sentimentos conflituosos antes de tomar uma
decisão; aprender começar a escolher.
2.
Adquirir
alguns flocos de lã dourados: ganhar poder e assertividade para não ser
inferiorizada, ou tomar posse da energia masculina (animus) destrutiva.
3.
Encher
a jarra de cristal: manter certa distância emocional dos relacionamentos.
4.
Aprender
a dizer não: aos outros e a si mesma; aprender a fazer diferença entre as
próprias necessidades e as necessidades dos outros.
Essas tarefas, na verdade, se prestam a todas
as mulheres, pois são tarefas que todas as mulheres devem aprender, não só para
darem vazão ao feminino mas, também, para executá-las todas as vezes que se
defrontarem com uma situação conflitante.
AS DEUSAS MENOS CONHECIDAS
Os
arquétipos evocam e moldam a energia psíquica à sua semelhança. Talvez, um dos
maiores erros humanos seja pensar que possui o livre-arbítrio para fazer ou
pensar o que quer. Na verdade, se está à mercê dos poderes divinos dos deuses
ou, em linguagem psicológica, dos arquétipos. E, caso o ego não esteja
fortalecido e capaz de auto-observar-se, fatalmente, sucumbirá ao poder do
arquétipo. Por isso, vamos abordar alguns arquétipos representados pelas
chamadas deusas gregas menos conhecidas, como as denominou Sanford no livro
"Destino, Amor e Êxtase". Essas deusas são aquelas anteriores a era
patriarcal, olímpica, e, portanto, matriarcal, que foram renegadas porque as
"forças da vida" que elas representavam também o foram com o advento
da era patriarcal. Elas estão presentes nos relacionamentos humanos,
principalmente nos de ordem afetiva. É através delas que temos o desenrolar de
um relacionamento afetivo emocional. Atentando para suas características e
qualidades poderemos repensar nossos relacionamentos, evocando as energias das
deusas necessárias a uma boa evolução ou, minimizando as energias menos
favoráveis. 1. O Cortejo de Afrodite Afrodite representa a deusa do amor
erótico que é denominado eros. Lembrando que ágape é o amor incondicional e
stroge o amor à família, a devoção e afeição em geral. Afrodite
possuía as qualidades Sagrada e Profana, na primeira impulsionava ao amor, na
segunda, impulsionava a sexualidade permissiva. As primeiras a saudarem
Afrodite quando ela nasceu, foram as três Horas e a deusa Peito. Peito era a
deusa da delicada persuasão e representa as palavras que seduzem e encantam a
mulher (visto que as mulheres são mais auditivas e os homens mais visuais).
Em
seguida, apareceram as Cárites, que são as responsáveis pelo amadurecimento do
amor, pelos adornos e cuidados para "se chamar à atenção" de alguém.
As Cárites são três: Agléia, que significa esplendida beleza; Eufrosina, que
significa pensamentos alegres, boa disposição, e Talia, que representa
abundância, fartura. Também atuava junto a Afrodite a Deusa Aidos, que era a
deusa da modéstia, do auto-respeito e da vergonha
2.
Ananke e os Daimones Ananke é a deusa da Necessidade, no sentido de se precisar
de alguma coisa. Representa as necessidades externas e internas, as de
relacionamento ou de afinidade, da criatividade e da cura. Pode ser percebida
nos vícios, nos transtornos obsessivo-compulsivos (TOC). Daimones são espíritos
puros que habitam a terra; benévolos e "guardiões dos mortais". Do
grego, deimon; genius para os romanos. Mas, também, uma maneira de vivenciar a
necessidade segundo nos seja mais apropriada. A palavra terapia vem do grego,
de thepapeuo, que significa curar e "prestar serviço aos
deuses".
3.
Têmis e suas filhas Têmis é a deusa do que é Correto, no sentido da correção e
não da moral, dos limites e fronteiras. É a ordem correta, a ordem que
prevalece na natureza, que regula a vida humana e até os relacionamentos;
limitava a boa sorte e felicidade dos mortais.É Têmis quem impede a Sombra de
se introduzir nas relações de amizade pois, estaríamos ultrapassando o justo
limite da relação. Ela faz o mesmo quando existe um inimigo entre dois amigos,
ou seja, quando uma das pessoas amigas tem amizade com uma outra que é inimiga
de seu amigo. Têmis também limita o ciúme. Os relacionamentos amorosos embora
suportem melhor a invasão da Sombra e do ciúme, desde que esse último seja na
esfera afetiva e não mundana, também são regulados por Têmis.
Têmis
também está presente nos relacionamentos profissionais, como por exemplo, na
relação terapeuta-cliente, onde deve ser preservado o respeito mútuo e contidas
as intensas emoções pessoais. Ela aparece na ordem social: no Código Penal, de
Trânsito, da Receita Federal, e, principalmente, na Natureza, na ordem natural,
tais como na cadeia alimentar e controle populacional. Têmis tinha três filhas:
Dike ou Diquê, que representa o costume, a lei e a justiça; Eunomia,
representando a boa ordem, e, Eirene, a paz. Têmis tinha, ainda, outra
acompanhante que, junto com Dike aplicava a justiça, que era Nêmesis, que
representa a punição justa e a vingança. Nos vícios, no consumismo, nos quadros
maníaco-depressivos e na sexualidade desenfreada encontramos exemplos claros de
desrespeito a Têmis.
4. A Deusa Ate A Deusa
Ate é a responsável pela insensatez, pela ruína, pelo pecado, pela discórdia e
pela confusão por bobagens. Faz com que se perca o poder do discernimento
moral, do julgamento e da ação correta. Quem se via sob a influência de Ate,
apelava para as três Lites (preces). Ate compelia nações ou pessoas a agirem
sob a inclinação de ate (insensatez, discórdia), sucumbindo ao pecado de hybris
(soberba, orgulho).
5.
As Moiras Fala-se muito sobre as "escolhas" que as pessoas fazem; se
coisas boas ou ruins acontecem, são por suas escolhas; que todos construímos e
moldamos nossas vidas e destino através de nossas escolhas. Entretanto, existem
inúmeros fatos que não corroboram essas afirmativas. Desde o nascimento até a
morte - os dois principais pontos de não escolha - vivenciamos situações que
independem de nossa vontade, tais como: poder ter ou não filhos, que estes
nasçam sadios, sofrer ou não de determinadas doenças de ordem genética, etc. E,
isso é o que chamamos destino ou fatalidade, que era representado na Grécia
Antiga pelas três deusas Moiras (ou Parcas).
As três Moiras são: Cloto, a
fiandeira, representa a que tece a teia da vida; Átropos, a que cortava o fio
da vida; e, Láchesis, a que distribui a parte que cabe a cada alma. Existia,
ainda, na Grécia Antiga, uma outra fatalidade, a úpermoira, que era uma sina
que a pessoa atraía para si em função do pecado, ou seja, era uma conseqüência
do pecado. E úpermoira podia ser evitada. Então, pode-se dizer que a fatalidade
ou sina determinada pelas Moiras é uma predestinação que só pode ser enfrentada,
mas não evitada. Não é determinada por boas ou más ações do sujeito ou de seus
pais; não está ligada a uma vida com ou sem pecado. Já a úpermoira, sim.
Enfrentar a sina exige e desenvolve o caráter (do grego, xaracter que significa
ser alguém definido), ou seja, determinados princípios a que se permanece fiel
independente de confrontações. E este é o caminho para a individuação, o
caminho para realizarmo-nos como indivíduos únicos. Sendo a fatalidade
inevitável, o mesmo não se pode dizer do destino pois este pode ou não ser
cumprido, sendo determinado pela maneira que enfrentamos as fatalidades e
fazemos nossas escolhas (caráter).
6.
As Erínias (ou Fúrias) As Erínias viviam no Tártaros, que era a parte do
subterrâneo reservado aos mortais que eram levados para lá como forma de
castigo pois haviam cometido alguma grave ofensa contra os deuses. Elas
carregavam tochas, serpentes e chicotes, e representavam os espíritos da
vingança feminina. As três Erínias são: Aleto, a incessante, a implacável;
Tisífone, a inexorável; e, Megaira, a raiva invejosa. Elas defendiam os valores
femininos primordiais: a fidelidade ao amor e os direitos e a santidade da
família, especialmente das mães. E, quando estes eram violados, perseguiam
furiosamente suas vítimas. As Erínias também eram chamadas por Eunêmides, com a
intenção de não pronunciar seus verdadeiros nomes. Mas, como Eunêmides, eram
responsáveis pela abundância e bênçãos quando a natureza era honrada, quando a
ordem natural era respeitada. O inconsciente quando negligenciado pode
voltar-se contra o consciente, tornando-o destrutivo, isto é, levando o
indivíduo a provocar acidentes ou doenças para si mesmo. Este é o efeito das
Erínias na psique humana.
7.
Dionísio: o mais estranho dos Deuses Dionísio é uma incógnita, nada é
conclusivo no que diz respeito a ele. É o deus que concedeu o vinho e o sono
aos mortais. Ele era magnífico em se transformar, modificava-se com disfarces
teriomórficos (touro, serpente, leão, bode) para validar seus mandatos.
Associado a turbulência, ao abandono, a liberação das repressões da vida, mas
não devasso ou libertino, características próprias de Baco, sua versão romana.
A liberdade atribuída a Dionísio era de se viver a vida, desfrutando do que ela
tinha de melhor, mas em coerência com a essência interior - ele habita o
inconsciente e clama por se libertar. Foi por essa razão que ele era seguido
incessantemente pelas mulheres. Havia algo nele do feminino, muitos o achavam
parecido com as mulheres. Há uma androgenia em Dionísio que fazia com que fosse
adorado por ambos os sexos. Ele era o deus do falo e não apenas por sua
sexualidade, mas por simbolizar o poder masculino penetrante capaz de
fertilizar o feminino. Era um deus sensível às dores e angústias dos mortais e
o vinho veio para curar a alma através da liberação e da animação da mesma.
Dionísio era, decididamente, uma afronta aos valores patriarcais. A vivência da
sexualidade despertada nas mulheres por Dionísio não era profana, pois ele
acreditava e sabia que as mulheres eram fiéis ao amor e, portanto, à sua
própria natureza. Elas não sairiam por aí se entregando a qualquer um. Dionísio
é associado a "loucura" que não tem qualquer relação com a
insanidade, mas ao poder criativo que, também, pode se destrutivo, que seria a
invasão de uma divindade, ou seja, a energia desse deus emerge das camadas mais
profundas do inconsciente e que independe da vontade do ego. Dionísio ou,
psicologicamente falando, a experiência dionísica conduz a uma intensificação
da consciência e por isso é parte fundamental no processo de
individuação.
Entretanto,
isso não é comparável ao movimento feminista, pois não rejeita ou nega o logos
(masculino) ou hipervaloriza o eros (feminino), a liberação dionísica visa a
união desses elementos que assim libertariam a alma. Não haveria, assim, uma
hipervalorização do ego. Como usar a energias dessas deusas Através da
compreensão desses arquétipos poderemos observar e desenvolver aspectos
primordiais na esfera dos relacionamentos. Desenvolvendo-se as características
positivas dos arquétipos que estariam menos desenvolvidos ou menos atuantes em
nós, poderíamos encaminhar os relacionamentos de maneira mais harmoniosa e
real. Como já mencionado no início deste trabalho, os aspectos simbolizados
pelas chamadas deusas menos conhecidas foram desprezados, negados pelo
patriarcado. E, embora, de teor feminino não pertencem apenas às mulheres, mas
a parte feminina (anima) do homem. Enfim, vamos embarcar nessa viagem que nos
conduz, principalmente, ao relacionamento amoroso. Primeiramente, somos tocados
pelos poderes de Afrodite, através de eros. Então, a deusa Peito influenciará o
homem a nos dizer coisas que nos seduzem e encantam. Segue-se a ação das deusas
Cárites que nos farão cuidarmo-nos e adornarmo-nos para atrair a atenção, além
de fazerem com que sintamos aquela alegria de esperar pelo encontro. Logo, virá
Aidos que nos conduzirá a atitudes de auto-respeito e vergonha, não permitindo
que violentemos nossos valores pessoais, pois Ananke irá se manifestar através
de nossas necessidades afetivas e corporais de ter um relacionamento amoroso,
de acordo com nosso daimon (de maneira apropriada para nós) . Mas deveremos nos
acautelar com Ananke para não ficarmos obcecadas pelo objeto de nossa energia
afetiva.
A deusa Têmis e suas filhas estarão "vigiando" todo o
processo para que permaneçamos corretas aos valores naturais, impedindo que a
nossa Sombra seja projetada e que desafiemos os costumes e leis que regem os
relacionamentos (p. ex.: a traição), limitando o ciúme no nível da normalidade.
Devemos, também, estar atentas com relação a Ate que promove a discórdia, a
confusão através da auto-ilusão e arrogância. Estaremos à mercê do
Destino-Fatalidade (Moiras) que colocará alguém em nossa vida, mas deveremos
estar atentas no sentido da úpermoira (destino) para que não criemos situações
das quais nos arrependeremos, aqui reside a nossa chance de fazermos as boas
escolhas. Mas se nos virmos traídas, as Erínias se encarregarão de nos deixar
iradas e buscar implacavelmente por vingança.
E,
através de Dionísio, libertaremos nossa alma e viveremos o amor sem o controle
do ego; não o submeteremos a racionalidade e nem a mediocridade, mas o
elevaremos acima do nível mundano.