domingo, 31 de março de 2019

PRESENTE




Certa vez existiu um grande guerreiro. Embora idoso, ainda era capaz de derrotar qualquer desafiante. Sua reputação estendeu-se longe e amplamente através do país e muitos estudantes reuniam-se para estudar sob sua orientação.
Um dia um infame jovem guerreiro chegou à vila. Ele estava determinado a ser o primeiro homem a derrotar o grande mestre. Junto à sua força, ele possuía uma habilidade fantástica em perceber e explorar qualquer fraqueza em seu oponente, ofendendo-o até que este perdesse a concentração. 
Ele esperaria então que seu oponente fizesse o primeiro movimento, e assim revelando sua fraqueza, atacaria com força impiedosa e velocidade de um raio.
Ninguém jamais havia resistido a ele além do primeiro movimento. Contra todas as advertências de seus preocupados estudantes, o velho mestre alegremente aceitou o desafio do jovem guerreiro.
Quando os dois se posicionaram para a luta, o jovem guerreiro começou a lançar insultos ao velho mestre. Ele jogava terra e cuspia em sua face. Por horas, verbalmente ofendeu o mestre com todo o tipo de insulto e maldição conhecidos pela humanidade.
Mas o velho guerreiro meramente ficou parado ali, calmamente.
 O jovem guerreiro ficou exausto. Percebeu que tinha sido derrotado, e fugiu envergonhado. Um tanto desapontados por não terem visto seu mestre lutar contra o insolente, os estudantes perguntaram:
- Como o senhor pôde suportar tantos insultos e indignidades?
- Como conseguiu derrotá-lo sem ao menos se mover?
- Se alguém vem para lhe dar um presente e você não o aceita, - o mestre replicou, - para quem retorna este presente?

quinta-feira, 28 de março de 2019

CAÇANDO DOIS COELHOS



Um estudante de artes marciais aproximou-se de seu mestre com uma questão:
- Gostaria de aumentar meu conhecimento das artes marciais. Em adição ao que aprendi com o senhor, eu gostaria de estudar com outro professor para poder aprender outro estilo. O que pensa de minha idéia?
- O caçador que espreita dois coelhos ao mesmo tempo, - respondeu o mestre, - corre o risco de não pegar nenhum


terça-feira, 26 de março de 2019

CONHECENDO OS PEIXES




Certa vez Chuang Tzu e um amigo caminhavam à margem de um rio.
- Veja os peixes nadando na corrente, - disse Chuang Tzu, - Eles estão realmente felizes...
- Você não é um peixe, - replicou arrogantemente seu amigo, - Então você não pode saber se eles estão felizes.
- Você não é Chuang Tzu, - disse Chuang Tzu, - Então como você sabe que eu não sei que os peixes estão felizes?



segunda-feira, 25 de março de 2019

ARCO E FLECHA




Após ganhar vários torneios de Arco e Flecha, o jovem e arrogante campeão resolveu desafiar um mestre Zen que era renomado pela sua capacidade como arqueiro.
 O jovem demonstrou grande proficiência técnica quando ele acertou em um distante alvo na mosca na primeira flecha lançada, e ainda foi capaz de dividi-la em dois com seu segundo tiro.
- Sim! - ele exclamou para o velho arqueiro, - Veja se pode fazer isso!
Imperturbável, o mestre não preparou seu arco, mas em vez disso fez sinal para o jovem arqueiro segui-lo para a montanha acima. Curioso sobre o que o velho estava tramando, o campeão seguiu-o para o alto até que eles alcançaram um profundo abismo atravessado por uma frágil e pouco firme tábua de madeira. 
Calmamente caminhando sobre a insegura e certamente perigosa ponte, o velho mestre tomou uma larga árvore longínqua como alvo, esticou seu arco, e acertou um claro e direto tiro.
- Agora é sua vez, - ele disse enquanto ele suavemente voltava para solo seguro. Olhando com terror para dentro do abismo negro e aparentemente sem fim, o jovem não pôde forçar a si mesmo caminhar pela prancha, muito menos acertar um alvo de lá.
- Você tem muita perícia com seu arco - o mestre disse, percebendo a dificuldade de seu desafiante, - mas você tem pouco equilíbrio com a mente que deve nos deixar relaxados para mirar o alvo.





quinta-feira, 21 de março de 2019

APENAS DUAS PALAVRAS




Havia um certo Monastério Soto Zen que era muito rígido. Seguindo um estrito voto de silêncio, a ninguém era permitido falar. Mas havia uma pequena exceção a esta regra: a cada 10 anos os monges tinham permissão de falar apenas duas palavras. Após passar seus primeiros dez anos no Monastério, um jovem monge foi permitido ir ao monge Superior.
- Passaram-se dez anos, disse o monge Superior.
- Quais são as duas palavras que você gostaria de dizer?
- Cama dura... - disse o jovem.
- Entendo... - replicou o monge Superior.
Dez anos depois, o monge retornou à sala do monge Superior.
- Passaram-se mais dez anos, - disse o Superior. - Quais são as duas palavras que você gostaria de dizer?
- Comida ruim... - disse o monge.
- Entendo... - replicou o Superior.
Mais dez anos se foram e o monge uma vez mais encontrou-se com o seu Superior, que perguntou:
- Quais são as duas palavras que você gostaria de dizer, após mais estes dez anos?
- Eu desisto! - disse o monge.
- Bem, eu entendo o porquê, - replicou, cáustico, o monge Superior. - Tudo o que você sempre fez foi reclamar!

quinta-feira, 14 de março de 2019

ANSIANDO POR DEUS





Um sábio estava meditando à margem de um rio quando um homem jovem, um tanto entusiasmado, o interrompeu.
- Mestre, eu desejo ser seu discípulo!, - disse o jovem.
- Por quê? replicou o sábio.
O jovem era uma pessoa que sempre ouviu falar dos caminhos espirituais, e tinha uma idéia fantasiosa e romântica deles. Em sua imaturidade, ele achava que ser "espiritual" era algo como participar de um movimento, de uma crença, de uma moda, sem grandes consequências. Ele então pensou numa resposta bem "profunda" e disse:
- Porque eu quero encontrar DEUS!
O sábio pulou de onde estava, agarrou o rapaz pelo cangote, arrastou-o até o rio e mergulhou sua cabeça sob a água. Manteve-o lá por quase um minuto, sem permitir que respirasse, enquanto o terrificado rapaz chutava e lutava para se libertar. Finalmente o mestre o puxou da água e o arrastou de volta à margem. Largou-o no chão, enquanto o homem cuspia água e engasgava, lutando para retomar a respiração e entender o que acontecera.
Quando ele eventualmente se acalmou, o sábio lhe perguntou:
- Diga-me, quando estava sob a água, sabendo que morreria, o que você queria mais do que tudo?
- Ar! - respondeu o jovem, amuado.
- Muito bem, - disse o mestre.
- Vá para sua casa, e quando você souber ansiar por um Deus tanto quanto você acabou de ansiar por ar, pode voltar a me procurar.


quarta-feira, 13 de março de 2019

SOM DO SILÊNCIO



Certa vez, um buddhista foi às montanhas procurar um grande mestre, que segundo acreditava poderia lhe dizer a palavra definitiva sobre o sentido da Sabedoria.
Após muitos dias de dura caminhada o encontrou em um belo templo à beira de um lindo vale.
- Mestre, vim até aqui para lhe pedir uma palavra sobre o sentido do Dharma. Por favor, faça-me atravessar os Portões do Zen.
- Diga-me, - replicou o sábio, - vindo para cá vós passastes pelo vale?
- Sim.
- Por acaso ouvistes o seu som?
Um tanto incerto, o homem disse:
- Bem, ouvi o som do vento como um suave canto penetrando todo o vale.
O sábio respondeu:
- O local onde vós ouvistes o som do vale é onde começa o caminho que leva aos Portões do Zen. E este som é toda palavra que vós precisais ouvir sobre a Verdade.


terça-feira, 12 de março de 2019

O SILENCIO COMPLETO





Quatro monges decidiram meditar em silêncio completo, sem falar por duas semanas. Na noite do primeiro dia a vela começou a falhar e então apagou. O primeiro monge disse:
- Oh, não! A vela apagou!
O segundo comentou:
- Não tínhamos que ficar em silêncio completo?
O terceiro reclamou:
- Por que vocês dois quebraram o silêncio?
Finalmente o quarto afirmou, todo orgulhoso:
- Ahaaa! Eu sou o único que não falou!


domingo, 10 de março de 2019

SEM PROBLEMA




Um praticante Zen foi à Bankei e fez-lhe esta pergunta, aflito:
- Mestre, Eu tenho um temperamento irascível. Sou às vezes muito agitado e agressivo e acabo criando discussões e ofendendo outras pessoas. Como posso curar isso?
- Tu possuis algo muito estranho, - replicou Bankei.
- Deixe ver como é esse comportamento.
- Bem... eu não posso mostrá-lo exatamente agora, mestre, - disse o outro, um pouco confuso.
- E quando tu a mostrarás para mim? - perguntou Bankei.
- Não sei... é que isso sempre surge de forma inesperada, - replicou o estudante.
- Então, - concluiu Bankei, - essa coisa não faz parte de tua natureza verdadeira. Se assim fosse, tu poderias mostrá-la sempre que desejasse. Quando tu nasceste não a tinhas, e teus pais não a passaram para ti. Portanto, saibas que ele não existe."

sábado, 9 de março de 2019

UMA VIDA INÚTIL?




Um bondoso fazendeiro tornou-se velho demais para poder trabalhar nos campos. Assim ele passava seus dias apenas sentado na varanda, feliz em observar a natureza. Seu filho era uma pessoa insensível e ambiciosa que não gostava de dar duro. Mas, ainda trabalhando na fazenda, podia observar seu pai de vez em quando ao longe.
- Ele é inútil, - o filho falou para si mesmo, agastado, - ele não faz nada!
Um dia o filho ficou tão frustado por ver seu pai numa vida que ele considerava absurda, que construiu um caixão de madeira, arrastou-o até a varanda e disse insensivelmente para o seu pai entrar nele.
Sem dizer uma palavra, o pai deitou-se no caixão. Após fechar a tampa, o filho arrastou o caixão até as fronteiras da fazenda onde existia um grande abismo. Quando ele se aproximou da beira, ouviu uma suave batida na tampa, de dentro do caixão. Ele abriu-o. Ainda deitado lá pacificamente, o pai olhou para seu filho.
- Sei que você vai lançar-me no abismo, mas antes de fazer isso posso lhe sugerir uma coisa?
- O que é? - disse o filho, confuso e algo constrangido por ver seu pai tão calmo.
- Lance-me ao abismo, se quiser, - disse o pai, - mas salve este bom caixão de madeira. Seus filhos podem querer usá-lo um dia com você...


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