segunda-feira, 8 de abril de 2019

CIDADE FANTASMA



     Um grupo de viajantes, tendo ouvido falar de uma cidade cheia de tesouros, parte para enfrentar uma difícil jornada.
 Para chegar à cidade, teriam que percorrer uma estrada extremamente longa que atravessava desertos, florestas e terras perigosas.
 Nenhum trecho dessa estrada era seguro e os viajantes teriam de ter muita coragem e persistência para atingir sua meta.
     Haviam completado mais da metade da jornada e acabado de sair de uma densa floresta, quando o guia que os conduzia, que conhecia bem o caminho, avisou que logo iriam se aventurar por um deserto.
     O sol escaldante e as fortes tempestades de areia provaram ser demais para eles. Os viajantes estavam tão cansados que começaram a perder a coragem e a querer desistir dos tesouros em troca da segurança de seus lares que haviam deixado para trás.
O guia, contudo, estava determinado a levar todos, não importando como. Ele usou, então, seus poderes místicos, fazendo surgir uma cidade monumental no meio do deserto.
     Instantaneamente, os viajantes tiveram uma visão fantástica. Apareceu 'do nada' um lindo oásis repleto de árvores, por entre as quais viram uma cidade.
Imediatamente, correram até lá com grande alegria. Todo o cansaço, todas as dores e todo o desânimo desapareceram em um instante, para dar lugar ao otimismo, à alegria e à esperança.
Eles se banharam, saborearam comidas deliciosas e dormiram tranquilamente. Em suas conversas, nem cogitavam a idéia de desistir da jornada e de retornar aos seus lares.
     Na manhã seguinte, logo que despertaram, ficaram estarrecidos ao ouvir o guia lhes dizer que tinham de deixar aquele lugar maravilhoso e seguir viagem.
     — Mas, este é exatamente o paraíso que procurávamos por tanto tempo! — exclamou um deles.
     Não. — respondeu o guia — Os senhores nem sequer alcançaram o primeiro terço da jornada. Este é somente um ponto de descanso, um lugar para se refrescarem.
Acreditem! O destino final é muito mais belo do que esta cidade e não está tão longe. Agora que tivemos tempo para descansar e relaxar, teremos que continuar nossa peregrinação.
     Dito isso, a cidade desapareceu na areia.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

GUTEI E O DEDO





O Mestre Gutei, sempre que lhe faziam uma pergunta, respondia levantando um dedo sem dizer nada. Um noviço adquiriu o vício de imitá-lo. Certo dia, um visitante perguntou ao noviço:
 - Que sermão o Mestre está pronunciando agora?
O noviço respondeu levantando o dedo. O visitante, quando se encontrou com o Mestre, contou-lhe que o noviço o imitara. Mais tarde, o Mestre escondeu uma faca nas vestes e chamou o noviço. Quando este se apresentou, Gutei perguntou-lhe:
- O que é Buddha?
O rapaz, ansioso para impressionar o mestre, respondeu levantando o dedo. O Mestre então agarrou-lhe a mão e cortou-lhe o dedo com a faca. O discípulo, apavorado e em choque, já ia sair correndo, mas o Mestre o chamou com um grito:
- NOVIÇO!
Quando o rapaz se voltou para o Mestre, este perguntou abruptamente:
- O que é Buddha?
O discípulo ia levantar o dedo, mas não tinha mais dedo.
Neste instante, ele alcançou o Satori.



quarta-feira, 3 de abril de 2019

EGOÍSMO




O Primeiro Ministro da Dinastia Tang era um herói nacional pelo seu sucesso tanto como homem de estado quanto como líder militar. Mas a despeito de sua fama, poder e riqueza, ele se considerava um humilde e devoto Buddhista. Frequentemente ele visitava seu mestre Zen favorito para estudar com ele, e eles pareciam se dar muito bem. O fato de que ele era primeiro ministro aparentemente não tinha efeito em sua relação, que parecia ser simplesmente a de um reverendo mestre e seu respeitoso estudante.
Um dia, durante sua visita usual, o Primeiro Ministro perguntou ao mestre
- Mestre, o que é o egoísmo de acordo com o Buddhismo?
O rosto do mestre ficou vermelho, e num tom de voz extremamente desdenhoso e insultuoso ele gritou em resposta:
- Que tipo de pergunta estúpida é esta?!?
Tal resposta tão inesperada chocou tanto o Primeiro Ministro que este tornou-se imediatamente arrogante e com raiva:
- Como ousa me tratar assim?
Neste momento o mestre Zen sorriu e disse:
- ISTO, Sua Excelência, é egoísmo...

domingo, 31 de março de 2019

PRESENTE




Certa vez existiu um grande guerreiro. Embora idoso, ainda era capaz de derrotar qualquer desafiante. Sua reputação estendeu-se longe e amplamente através do país e muitos estudantes reuniam-se para estudar sob sua orientação.
Um dia um infame jovem guerreiro chegou à vila. Ele estava determinado a ser o primeiro homem a derrotar o grande mestre. Junto à sua força, ele possuía uma habilidade fantástica em perceber e explorar qualquer fraqueza em seu oponente, ofendendo-o até que este perdesse a concentração. 
Ele esperaria então que seu oponente fizesse o primeiro movimento, e assim revelando sua fraqueza, atacaria com força impiedosa e velocidade de um raio.
Ninguém jamais havia resistido a ele além do primeiro movimento. Contra todas as advertências de seus preocupados estudantes, o velho mestre alegremente aceitou o desafio do jovem guerreiro.
Quando os dois se posicionaram para a luta, o jovem guerreiro começou a lançar insultos ao velho mestre. Ele jogava terra e cuspia em sua face. Por horas, verbalmente ofendeu o mestre com todo o tipo de insulto e maldição conhecidos pela humanidade.
Mas o velho guerreiro meramente ficou parado ali, calmamente.
 O jovem guerreiro ficou exausto. Percebeu que tinha sido derrotado, e fugiu envergonhado. Um tanto desapontados por não terem visto seu mestre lutar contra o insolente, os estudantes perguntaram:
- Como o senhor pôde suportar tantos insultos e indignidades?
- Como conseguiu derrotá-lo sem ao menos se mover?
- Se alguém vem para lhe dar um presente e você não o aceita, - o mestre replicou, - para quem retorna este presente?

quinta-feira, 28 de março de 2019

CAÇANDO DOIS COELHOS



Um estudante de artes marciais aproximou-se de seu mestre com uma questão:
- Gostaria de aumentar meu conhecimento das artes marciais. Em adição ao que aprendi com o senhor, eu gostaria de estudar com outro professor para poder aprender outro estilo. O que pensa de minha idéia?
- O caçador que espreita dois coelhos ao mesmo tempo, - respondeu o mestre, - corre o risco de não pegar nenhum


terça-feira, 26 de março de 2019

CONHECENDO OS PEIXES




Certa vez Chuang Tzu e um amigo caminhavam à margem de um rio.
- Veja os peixes nadando na corrente, - disse Chuang Tzu, - Eles estão realmente felizes...
- Você não é um peixe, - replicou arrogantemente seu amigo, - Então você não pode saber se eles estão felizes.
- Você não é Chuang Tzu, - disse Chuang Tzu, - Então como você sabe que eu não sei que os peixes estão felizes?



segunda-feira, 25 de março de 2019

ARCO E FLECHA




Após ganhar vários torneios de Arco e Flecha, o jovem e arrogante campeão resolveu desafiar um mestre Zen que era renomado pela sua capacidade como arqueiro.
 O jovem demonstrou grande proficiência técnica quando ele acertou em um distante alvo na mosca na primeira flecha lançada, e ainda foi capaz de dividi-la em dois com seu segundo tiro.
- Sim! - ele exclamou para o velho arqueiro, - Veja se pode fazer isso!
Imperturbável, o mestre não preparou seu arco, mas em vez disso fez sinal para o jovem arqueiro segui-lo para a montanha acima. Curioso sobre o que o velho estava tramando, o campeão seguiu-o para o alto até que eles alcançaram um profundo abismo atravessado por uma frágil e pouco firme tábua de madeira. 
Calmamente caminhando sobre a insegura e certamente perigosa ponte, o velho mestre tomou uma larga árvore longínqua como alvo, esticou seu arco, e acertou um claro e direto tiro.
- Agora é sua vez, - ele disse enquanto ele suavemente voltava para solo seguro. Olhando com terror para dentro do abismo negro e aparentemente sem fim, o jovem não pôde forçar a si mesmo caminhar pela prancha, muito menos acertar um alvo de lá.
- Você tem muita perícia com seu arco - o mestre disse, percebendo a dificuldade de seu desafiante, - mas você tem pouco equilíbrio com a mente que deve nos deixar relaxados para mirar o alvo.





quinta-feira, 21 de março de 2019

APENAS DUAS PALAVRAS




Havia um certo Monastério Soto Zen que era muito rígido. Seguindo um estrito voto de silêncio, a ninguém era permitido falar. Mas havia uma pequena exceção a esta regra: a cada 10 anos os monges tinham permissão de falar apenas duas palavras. Após passar seus primeiros dez anos no Monastério, um jovem monge foi permitido ir ao monge Superior.
- Passaram-se dez anos, disse o monge Superior.
- Quais são as duas palavras que você gostaria de dizer?
- Cama dura... - disse o jovem.
- Entendo... - replicou o monge Superior.
Dez anos depois, o monge retornou à sala do monge Superior.
- Passaram-se mais dez anos, - disse o Superior. - Quais são as duas palavras que você gostaria de dizer?
- Comida ruim... - disse o monge.
- Entendo... - replicou o Superior.
Mais dez anos se foram e o monge uma vez mais encontrou-se com o seu Superior, que perguntou:
- Quais são as duas palavras que você gostaria de dizer, após mais estes dez anos?
- Eu desisto! - disse o monge.
- Bem, eu entendo o porquê, - replicou, cáustico, o monge Superior. - Tudo o que você sempre fez foi reclamar!

quinta-feira, 14 de março de 2019

ANSIANDO POR DEUS





Um sábio estava meditando à margem de um rio quando um homem jovem, um tanto entusiasmado, o interrompeu.
- Mestre, eu desejo ser seu discípulo!, - disse o jovem.
- Por quê? replicou o sábio.
O jovem era uma pessoa que sempre ouviu falar dos caminhos espirituais, e tinha uma idéia fantasiosa e romântica deles. Em sua imaturidade, ele achava que ser "espiritual" era algo como participar de um movimento, de uma crença, de uma moda, sem grandes consequências. Ele então pensou numa resposta bem "profunda" e disse:
- Porque eu quero encontrar DEUS!
O sábio pulou de onde estava, agarrou o rapaz pelo cangote, arrastou-o até o rio e mergulhou sua cabeça sob a água. Manteve-o lá por quase um minuto, sem permitir que respirasse, enquanto o terrificado rapaz chutava e lutava para se libertar. Finalmente o mestre o puxou da água e o arrastou de volta à margem. Largou-o no chão, enquanto o homem cuspia água e engasgava, lutando para retomar a respiração e entender o que acontecera.
Quando ele eventualmente se acalmou, o sábio lhe perguntou:
- Diga-me, quando estava sob a água, sabendo que morreria, o que você queria mais do que tudo?
- Ar! - respondeu o jovem, amuado.
- Muito bem, - disse o mestre.
- Vá para sua casa, e quando você souber ansiar por um Deus tanto quanto você acabou de ansiar por ar, pode voltar a me procurar.


quarta-feira, 13 de março de 2019

SOM DO SILÊNCIO



Certa vez, um buddhista foi às montanhas procurar um grande mestre, que segundo acreditava poderia lhe dizer a palavra definitiva sobre o sentido da Sabedoria.
Após muitos dias de dura caminhada o encontrou em um belo templo à beira de um lindo vale.
- Mestre, vim até aqui para lhe pedir uma palavra sobre o sentido do Dharma. Por favor, faça-me atravessar os Portões do Zen.
- Diga-me, - replicou o sábio, - vindo para cá vós passastes pelo vale?
- Sim.
- Por acaso ouvistes o seu som?
Um tanto incerto, o homem disse:
- Bem, ouvi o som do vento como um suave canto penetrando todo o vale.
O sábio respondeu:
- O local onde vós ouvistes o som do vale é onde começa o caminho que leva aos Portões do Zen. E este som é toda palavra que vós precisais ouvir sobre a Verdade.


terça-feira, 12 de março de 2019

O SILENCIO COMPLETO





Quatro monges decidiram meditar em silêncio completo, sem falar por duas semanas. Na noite do primeiro dia a vela começou a falhar e então apagou. O primeiro monge disse:
- Oh, não! A vela apagou!
O segundo comentou:
- Não tínhamos que ficar em silêncio completo?
O terceiro reclamou:
- Por que vocês dois quebraram o silêncio?
Finalmente o quarto afirmou, todo orgulhoso:
- Ahaaa! Eu sou o único que não falou!


domingo, 10 de março de 2019

SEM PROBLEMA




Um praticante Zen foi à Bankei e fez-lhe esta pergunta, aflito:
- Mestre, Eu tenho um temperamento irascível. Sou às vezes muito agitado e agressivo e acabo criando discussões e ofendendo outras pessoas. Como posso curar isso?
- Tu possuis algo muito estranho, - replicou Bankei.
- Deixe ver como é esse comportamento.
- Bem... eu não posso mostrá-lo exatamente agora, mestre, - disse o outro, um pouco confuso.
- E quando tu a mostrarás para mim? - perguntou Bankei.
- Não sei... é que isso sempre surge de forma inesperada, - replicou o estudante.
- Então, - concluiu Bankei, - essa coisa não faz parte de tua natureza verdadeira. Se assim fosse, tu poderias mostrá-la sempre que desejasse. Quando tu nasceste não a tinhas, e teus pais não a passaram para ti. Portanto, saibas que ele não existe."

sábado, 9 de março de 2019

UMA VIDA INÚTIL?




Um bondoso fazendeiro tornou-se velho demais para poder trabalhar nos campos. Assim ele passava seus dias apenas sentado na varanda, feliz em observar a natureza. Seu filho era uma pessoa insensível e ambiciosa que não gostava de dar duro. Mas, ainda trabalhando na fazenda, podia observar seu pai de vez em quando ao longe.
- Ele é inútil, - o filho falou para si mesmo, agastado, - ele não faz nada!
Um dia o filho ficou tão frustado por ver seu pai numa vida que ele considerava absurda, que construiu um caixão de madeira, arrastou-o até a varanda e disse insensivelmente para o seu pai entrar nele.
Sem dizer uma palavra, o pai deitou-se no caixão. Após fechar a tampa, o filho arrastou o caixão até as fronteiras da fazenda onde existia um grande abismo. Quando ele se aproximou da beira, ouviu uma suave batida na tampa, de dentro do caixão. Ele abriu-o. Ainda deitado lá pacificamente, o pai olhou para seu filho.
- Sei que você vai lançar-me no abismo, mas antes de fazer isso posso lhe sugerir uma coisa?
- O que é? - disse o filho, confuso e algo constrangido por ver seu pai tão calmo.
- Lance-me ao abismo, se quiser, - disse o pai, - mas salve este bom caixão de madeira. Seus filhos podem querer usá-lo um dia com você...


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

SUSTO NO MESTRE



Os estudantes em um mosteiro ficavam espantadíssimos com o monge mais velho, não porque ele fosse rígido, mas porque nada parecia irritá-lo ou perturbá-lo. Na verdade, eles o consideravam alguém sobrenatural e até mesmo um tanto assustador.
Um dia eles decidiram fazer um teste com o mestre. Um grupo deles escondeu-se silenciosamente em um canto escuro de uma das passagens do templo, e esperaram o momento em que o velho monge iria passar por ali. Num momento o velho homem apareceu, carregando um copo de chá quente. Exatamente quando ele passava, todos os estudantes pularam na sua frente, gritando o mais alto que podiam:
- AAAAAAHHHH!
Mas o monge não demonstrou absolutamente nenhuma reação, deixando todos pasmos de espanto. Pacificamente fez seu caminho até uma pequena mesa no canto mais afastado do templo, gentilmente pousou o copo, e então, encostando no muro, deu um grito de choque:
- OOOHHHHH!

domingo, 24 de fevereiro de 2019

IMPERMANÊNCIA


Um famoso mestre espiritual aproximou-se do Portal principal do palácio do Rei. Nenhum dos guardas tentou pará-lo, constrangidos, enquanto ele entrou e dirigiu-se aonde o Rei em pessoa estava solenemente sentado, em seu trono. 
- O que vós desejais? - perguntou o Monarca, imediatamente reconhecendo o visitante.
-  Eu gostaria de um lugar para dormir aqui nesta hospedaria, - replicou o professor.
- Mas aqui não é uma hospedaria, bom homem,  -disse o Rei, divertido, - Este é o meu palácio.
- Posso lhe perguntar a quem pertenceu este palácio antes de vós? - perguntou o mestre. 
- Meu pai. Ele está morto.
- E a quem pertenceu antes dele? 
- Meu avô, - disse o Rei já bastante intrigado, - Mas ele também está morto.
- Sendo este um lugar onde pessoas vivem por um curto espaço de tempo e então partem - vós me dizeis que tal lugar NÃO É uma hospedaria?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A HISTÓRIA DO HOMEM



Conta-se que na Pérsia antiga vivia um rei chamado Zemir. Coroado muito jovem, julgou-se na obrigação de instruir-se: reuniu em torno de si numerosos eruditos provenientes de todos os Países e pediu-lhes que editassem para ele a história da humanidade.
Todos os eruditos se concentraram, portanto, nesse estudo. Vinte anos se escoaram no preparo da edição. Finalmente, dirigiram-se a palácio, carregados de quinhentos volumes acomodados no dorso de doze camelos.
O rei Zemir havia, então, passado dos quarenta anos.
- Já estou velho - disse ele. - Não terei tempo de ler tudo isso antes da minha morte. Nessas condições, por favor, preparai-me uma edição resumida.
Por mais vinte anos trabalharam os eruditos na feitura dos livros e voltaram ao palácio com três camelos apenas. Mas o rei envelhecera muito. Com quase sessenta anos, sentia-se enfraquecido:
- Não me é possível ler todos esses livros. Por favor, fazei-me deles uma versão ainda mais sucinta.
Os eruditos labutaram mais dez anos e depois voltaram com um elefante carregado das suas obras. Mas a essa altura, com mais de setenta anos, quase cego, o rei não podia mesmo ler. Pediu, então, uma edição ainda mais abreviada. Os eruditos também tinham envelhecido. Concentraram-se por mais cinco anos e, momentos antes da morte do monarca, voltaram com um volume só.
- Morrerei, portanto, sem nada conhecer da historia do Homem - disse ele.
À sua cabeceira, o mais idoso dos eruditos respondeu:
- Vou explicar-vos em três palavras a história do Homem: o homem nasce, sofre e, finalmente, morre. - Nesse instante o rei expirou.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

ESSÊNCIA





Na China, havia um monge Zen, chamado mestre Dori, que, por fazer zazen empoleirado num pinheiro pára-sol, fora alcunhado de mestre Ninho de Passarinho Um poeta muito célebre, Sakuraten, foi visitá-lo e, ao vê-lo fazer zazen, disse-lhe:
- Tomai cuidado, que isso é perigoso; podereis, um dia, cair do pinheiro!
- De maneira nenhuma, - respondeu mestre Dori.
- Vós é que correis perigo de um dia cair.
Sakuraten refletiu.
- Com efeito, vivo dominado por paixão, é como brincar com o raio. - E perguntou ao mestre Zen:
- Qual é a verdadeira essência do budismo?
Mestre Dori respondeu:
- Não façais nada violento, praticai somente o aquilo que é justo e equilibrado.
- Mas até uma criança de três anos sabe disso! - exclamou o poeta.
- Sim, mas é uma coisa difícil de ser praticada até mesmo por um velho de oitenta anos... - completou o mestre

sábado, 2 de fevereiro de 2019

BASO E O NARIZ



Certo dia Baso passeava em companhia de seu jovem discípulo Hyakujô. A certa altura do passeio, viram uma revoada de patos selvagens. Baso perguntou então a Hyakujô:
- Que é aquilo, Hyakujô?
- São patos selvagens, Mestre - disse o jovem.
- E para onde vão?
- Vão-se embora, voando... - replicou Hyakujô, fitando o céu, pensativo.
Então Baso agarrou o nariz de seu discípulo com toda a força, dando um forte puxão. Hyakujô gritou:
- Aaaai!
Baso exclamou:
- NÃO FORAM EMBORA COISA NENHUMA!
Ao ouvir isso, Hyakujô obteve o Satori.




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

MISTÉRIO DO ZEN




Certa vez, Huang Shan-ku perguntou ao mestre Hui-t'ang:
- Por favor, Mestre, diga-me qual é o significado oculto do Buddhismo?
O Mestre replicou:
- Kung-Tzu (Confúcio) disse: 'Pensais que estou escondendo coisas, ó meus discípulos? Na verdade, não escondo nada de vocês'. O Zen também não tem nada de oculto. A Verdade já está revelada.
- Não enten...! estava dizendo o homem. Mas o mestre fez um gesto de silêncio e disse:
- Não digas nada! - Huang Shan-ku ficou confuso.
O Mestre então ergueu-se e convidou-o a segui-lo até o sopé de uma montanha. Eles caminharam em silêncio. Lá chegando, o Mestre perguntou:
- Sentes o suave aroma dos ciprestes?
- Sim, - disse o outro.
- Como vês, também eu não escondo nada de ti.






terça-feira, 29 de janeiro de 2019

BASO E A MEDITAÇÃO



Quando jovem, Baso praticava incessantemente a Meditação. Certa ocasião, seu Mestre Nangaku aproximou-se dele e perguntou-lhe:
- Por que praticas tanta Meditação?
- Para me tornar um Buddha.
O Mestre tomou de uma telha e começou a esfregá-la com um pedra. Intrigado, Baso perguntou:
- O que fazeis com essa telha?
- Pretendo transformá-la num espelho.
- Mas por mais que a esfregueis, ela jamais se transformará num espelho! Será sempre uma pedra.
- O mesmo posso dizer de ti. Por mais que pratiques Meditação, não te tornarás Buda.
- Então o que fazer?
- É como fazer um boi andar.
- Não entendo.
- Quando queres fazer um carro de bois andar, bates no boi ou no carro? Baso não soube o que responder e então o Mestre continuou: Buscar o Estado de Buda fazendo apenas Meditação é matar o Buda. Dessa maneira, não acharás o caminho certo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

ALÉM DO VAZIO




Certa vez um monge perguntou a Li-chan:
- Se todas as coisas se reduzem em última análise ao Vazio, este a quê se reduzirá?
Respondeu o mestre:
- Minha língua é curta demais para vos explicar.
- E por que vossa língua é tão curta? - perguntou o monge, intrigado.
- No interior e no exterior ela é da mesma vazia natureza. - Disse o mestre.




quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O DHARMA ETERNO




Um dia um discípulo perguntou ao seu professor:
- Mestre, todas as coisas existentes têm de extinguir-se, mas há uma Verdade Eterna?
- Sim, - disse o mestre.
E apontou para o jardim:
- Ela é como as flores do campo, que de tão belas parecem brocados de pura seda; como um riacho aparentemente imóvel, mas que de fato está fluindo suavemente para o oceano.



segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O QUE ESTAIS FAZENDO?





Shih-t'ou, certa vez, perguntou ao seu discípulo Yueh-shan:
- O que estais fazendo aqui?
- Nada estou fazendo, - respondeu o pupilo.
- Então estais gastando seu tempo! - Disse o mestre, testando-o.
- Não será também gastar o tempo, quando fazemos alguma coisa? - replicou o monge.
- Dizeis que nada estais fazendo, mas quem é este indivíduo que nada faz?
Respondeu Yueh-shan:
- Até o mais sábio não pode saber.





terça-feira, 8 de janeiro de 2019

VENTO




Certa tarde de outono, o mestre Ikyyu vagueava pelos campos, levando consigo um a flauta de bambu. Um eremita, ao vê-lo perguntou:
– Quem és tu?
– Sou um peregrino que segue para onde sopra o vento.
Tencionando pô-lo em apuros o eremita perguntou:
– E quando o vento não sopra?
– Então sopro eu – respondeu Ikyyu, começando a soprar na sua flauta.






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