quinta-feira, 30 de agosto de 2018

NÃO PENSE BEM, NÃO PENSE MAL




Quando atingiu a iluminação completa o sexto Patriarca (Hui-Neng) recebeu do quinto Patriarca (Hung-Jen) o manto e a tigela, simbólicos da sucessão de grandes mestres a partir de Gautama Buddha, geração após geração.
O monge-chefe do templo chamado Jin-shu, cheio de rancor, perseguiu Hui-Neng com a intenção de retirar-lhe estes tesouros.
 O Sexto Patriarca colocou o manto e a tigela sobre uma pedra ao lado da estrada e disse a Jin-shu:
- Estes objetos apenas simbolizam uma crença. Não há motivos para se brigar por eles. Se desejais possuí-los, tome-os agora.
Quando Jin-shu tentou erguer os objetos eles pareceram-lhe tão pesados como uma montanha. Ele não pode tomá-los. Tremendo de vergonha ele disse:
- Eu vim em busca de esclarecimento, e não de tesouros materiais. Por favor, ensinai-me.
O Sexto Patriarca disse:
- Quando vós não pensais no "Bem" e quando vós não pensais no "Mal", em qual momento está vossa verdadeira natureza?
Ao ouvir tais palavras Jin-shu atingiu o Satori. Suor escorreu de todo seu corpo. Ele gritou e fez uma reverência, dizendo:
 - Vós me destes as secretas palavras e os secretos significados. Há ainda alguma parte mais profunda de vosso ensinamento?
Hui-neng disse:
- O que vos disse não é um segredo, em verdade. Quando compreendes vosso verdadeiro Eu o segredo já então lhe pertence.
 Jin-shu disse:
- Estive sob a orientação do quinto patriarca por muitos anos mas não pude compreender meu verdadeiro Eu até agora. Através de vosso ensinamento eu atingi a fonte. Uma pessoa bebe água e sabe por si mesma se esta é fria ou quente. Posso lhe considerar meu mestre?
Hui-neng replicou:
- Estudamos ambos sob o mesmo quinto patriarca. Continue chamando-o seu mestre, mas apenas guarde em si o que vós mesmos realizastes.



terça-feira, 28 de agosto de 2018

UPALI





Upali era um dos principais seguidores leigos do mestre Jaina Mahavira, contemporâneo de Buddha. Devido a sua inteligência, Upali frequentemente aparecia em público para debater em prol do Jainismo.
Certa vez Upali, buscando esclarecer os princípios do pensamento Jaina, envolveu-se em um debate com o Buddha. Ao fim do debate, Upali ficou tão impressionado com os ensinamentos de Buddha que acabou por solicitar se tornar um seguidor do Iluminado:
- Venerável Senhor, por favor, aceite-me como um vosso seguidor! - ele pediu.
Mas Buddha ponderou:
- Upali, vós estais sob a influência de suas emoções. Voltai para o seio de seu mestre, e reconsidere cuidadosamente sua decisão antes de me solicitar vossa inclusão no Sangha novamente.
Upali ficou então ainda mais impressionado e disse:
- Se fosse qualquer outro guru, terias com certeza convocado uma parada para anunciar: 'O maior dos discípulos leigos de Mahavira tornou-se o MEU seguidor! '. Mas vós, Venerável Senhor, me falastes sobre ponderação e cautela reflexiva, para que eu reconsidere o meu ato. Agora eu desejo ainda mais ser seu seguidor. Não me erguerei daqui até vós me aceitares.
Finalmente, Buddha concordou em aceitar Upali, sob uma condição:
- Upali, como um Jaina, vós sempre destes proventos aos monges Jainistas. Quando vos tornares meu seguidor, vós ireis continuar a dar-lhes apoio e proventos. Esta é minha condição.
Upali aceitou tal condição.
Mais tarde ele tornou-se um dos principais discípulos de Buddha. Upali é considerado aquele que compilou os Vinaya, ou as regras para os monges.



segunda-feira, 27 de agosto de 2018

FOME


  

Certo dia, o mestre Eisai (século XII, Japão) estava no templo que ele mesmo fundara, chamado Kenninji, em Quioto. Um homem pobre veio visitá-lo e disse:
Minha família é tão pobre que não tivemos nada para comer por muitos dias. Minha mulher e filhos estão quase morrendo de fome. Por favor, sinta compaixão por nós.
O mestre ficou perdido — não havia roupas, alimentos nem outras posses no templo. Lembrou-se de um pouco de cobre que fora doado para fazer o halo da imagem do Buda da Medicina, que estava sendo construída. O abade pegou esse cobre e deu ao homem para que pudesse vender e trocar por alimentos. Feliz, o homem se foi.
Entretanto, alguns dos praticantes criticaram o mestre, dizendo que ele não deveria dar parte da imagem de um Buda a uma pessoa laica. E o mestre respondeu:
Pensem na vontade Buda. Mesmo que tivéssemos de dar toda a imagem de Buda a alguém que estivesse com fome, saibam que isso estaria de acordo com a vontade Buda. E, mesmo que eu vá para o inferno por causa de um pecado como esse, salvei algumas pessoas da possível morte e do sofrimento da fome.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O CAMINHO




Joshu perguntou a Nansen:
- Qual é o Caminho?
Nansen disse:
O dia-a-dia é o Caminho
- Pode ele ser estudado? perguntou Joshu
Nansen disse:
- Se tentares estudá-lo, irás estar muito longe dele.
Joshu replicou:
- Se não posso estudá-lo, como posso entender o Caminho?
Nansen completou:
- O Caminho não pertence ao mundo da percepção, nem Ele pertence ao mundo da não percepção. A cognição é delusão e a não-cognição é sem sentido. Se desejais alcançar o Verdadeiro Caminho além das dúvidas, busqueis ser tão livre como o céu. E não afirmais que isso é bom ou ruim."
Ao ouvir tais palavras, Joshu atingiu o Satori.




terça-feira, 21 de agosto de 2018

A RAPOSA E O LAVRADOR




Cansado de ver sua colheita sempre sendo parcialmente destruída por aquele pequeno animal, o lavrador conseguiu capturar a raposa.
Sem a menor piedade, colocou aguardente em seu corpo e ateou fogo. Sabendo que ia morrer, ela começou a correr pelo meio da colheita, e tudo a sua volta começou a incendiar-se também.
 Enquanto se afastava, dizia:
- Da próxima vez, procura ser compreensivo e indulgente! É melhor sempre dar um pouco do que se tem, do que querer guardar tudo! Sempre que fazemos o mal, ele termina se voltando contra nós mesmos!



terça-feira, 14 de agosto de 2018

IMPERMANENCIA





Durante a prática de zazen noturno, o mestre Eihei Dogen assim falou:
— Impermanência é a verdadeira realidade bem na frente de seus olhos.
-Não precisamos esperar por ensinamentos de outras pessoas, prova de alguma passagem da escritura ou algum princípio.
Nasce de manhã e morre à tarde, a pessoa que vimos ontem não está mais aqui hoje — isso vemos com nossos olhos e ouvimos com nossos ouvidos. É o que também vemos e ouvimos de outras pessoas. 
Verifiquem em nossos próprios corpos e pensem na realidade — embora tenhamos a expectativa de viver 70 ou 80 anos, morreremos quando tivermos de morrer





segunda-feira, 13 de agosto de 2018

PARA QUE SERVE?



 

Mestre Eihei Dogen (fundador da ordem Soto Zen Shu no Japão, no século XIII) assim ensinou:
Quando estava na China, certa feita lia uma coleção de frases de mestre antigos. Nisso, um monge sincero se aproximou e me perguntou:
Para que serve ler esses dizeres?
Respondi:
Quero ensinar as pessoas quando voltar ao meu país.
O monge perguntou:
Para que serve isso?
Respondi:
Para beneficiar os seres vivos.
O monge insistiu:
Mas, finalmente, para quê?
Ponderei que, se minha prática não fosse verdadeira, como poderia ensinar outros? Mesmo sem saber uma única palavra, poderei me devotar à prática e clarificar o grande assunto da vida-morte.
Assim entendi a mensagem do monge — mais zazen e menos leituras e decoração de frases.”



quinta-feira, 9 de agosto de 2018

ANANDA AMOR






Ananda foi o primo de Buda e serviu como seu assistente pessoal por 25 anos.

Um dia quando Ananda estava passando por um poço próximo a uma vila, ele pediu a Pakati, uma jovem mulher expulsa de sua casta, por água.

Pakati respondeu: "Ó monge, eu sou muito humilde para dar para você água de beber. Não peça pelos meus serviços para que sua santidade não seja contaminada, pois eu sou de uma casta inferior."

Ananda disse: "Eu não peço por casta, mas por água."

O coração de Pakati pulou de alegria e ela ofereceu água para Ananda.

Tendo escutado que Ananda fora um discípulo de Buda, a mulher suplicou ao Buda:
"Ó Lorde, ajude-me e deixe-me viver no local onde seu discípulo Ananda reside para vê-lo e servi-lo, pois eu amo Ananda."

O Buda compreendeu seu coração e disse: "Pakati, seu coração está repleto de amor, entretanto você não compreende seus próprios sentimentos.

Não é Ananda quem você ama, mas sua bondade. Aceite a bondade que você observou-o praticando com você e pratique essa bondade em relação aos outros."





quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O TRABALHO NA LAVOURA






O rapaz cruzou o deserto, e chegou finalmente ao mosteiro de Sceta. Ali, pediu para assistir uma das palestras do abade - e recebeu permissão.
Naquela tarde, o abade discorreu sobre a importância do trabalho na lavoura.
No final da palestra, o rapaz comentou com um dos monges:
- Fiquei muito impressionado. Achei que ia encontrar um sermão iluminado sobre as virtudes e os pecados, e o abade só falava de tomates, irrigação, e coisas assim. Do lugar aonde venho, todos acreditam que Deus é misericórdia: basta rezar.
O monge sorriu, e respondeu:
- Aqui, nós acreditamos que Deus já fez a parte Dele; agora cabe a nós continuar o processo.



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